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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O BlackBerry pode acabar

Publicada em 19/09/2011 às 23h33m
Pedro Doria

RIO - A Research in Motion, RIM, empresa canadense que faz o celular BlackBerry, lucrou US$ 329 milhões no segundo trimestre deste ano. No mesmo trimestre do ano passado, tinha sido US$ 797 milhões. Uma queda de quase 60%. Foi o período em que a empresa lançou seu tablet, o Playbook. Ela levou às lojas 200 mil unidades. A Apple leva às lojas 100 mil iPads por dia. Pelo menos um analista respeitado e experiente, o jornalista John C. Dvorak da PC Magazine e do site de finanças Market Watch, sugere que os dias do BlackBerry estão chegando ao fim.
O mundo é dos smartphones. Quando os celulares começaram a aparecer, em princípios dos anos 1990, eram grandes, desajeitados e caros o suficiente para serem usados apenas por gente com dinheiro. Aí foram às mãos da classe média. Antes que a década terminasse, todo mundo tinha um. Com smartphones é o mesmo. Já passou da fase dos endinheirados, agora está com a classe média e, brevemente, os primeiros indícios estão aí, se universalizarão. A RIM inventou o smartphone. Surfou por um período. Ao que parece, perdeu a batalha.
Há, no mínimo, sobrevida. De todos seus números, ao menos um é positivo. Existem 70 milhões de pessoas que usam BlackBerries no mundo. O número jamais foi tão grande. Poucos aparelhos foram vendidos no último trimestre, mas a soma destes com os que já existiam fez um número respeitável.
Número de usuários engana. Em muitos países, isso inclui o Brasil, quem compra um celular da operadora muitas vezes leva um desconto em troca de um pacote de fidelidade. Pode trocar de aparelho antes do fim do contrato, mas para isso tem que pagar caro. Mudar de aparelho demora. Mas acontece.
Há espaço para dois smartphones. Apple e Google. Talvez possa existir um terceiro. A Microsoft cresce, o Blackberry cai
A isso, soma-se outro processo. As fabricantes que precisam empurrar aparelhos incentivam as operadoras. Em termos claros, o vendedor ganha comissão maior dependendo do telefone que vende. (A primeira sugestão desse vendedor é sempre interesseira.) O lucro da empresa fabricante cai, mas ao menos os aparelhos saem.
Resultado é que o BlackBerry tem gordura que o manterá ocupando espaço no mercado durante alguns anos. Mas a base não é constante: conforme os meses passam, o número de pessoas com smartphones aumenta, e aumenta a galopadas. Se poucos estiverem comprando BlackBerries, a queda será nítida.
No mundo dos celulares analógicos, o mercado se espatifou. Cada aparelho, às vezes da mesma empresa, funcionava de uma maneira diferente. No dos smartphones, o consumidor busca consistência. Existe espaço para dois padrões, e Apple com seu iOS e Google com seu Android já o ocupam.
Talvez exista espaço para uma terceira alternativa. No momento, a Microsoft, com seu Windows Phone, está melhor posicionada para o futuro. Um acordo firmado com a Nokia fará com que todos os aparelhos fabricados pela empresa rodem Windows. É, incrivelmente, um bom sistema. Elegante. Não tem muitos aplicativos. Mas a Nokia é a maior fabricante de celulares do mundo. Quando todos eles rodarem Windows Phone, a Microsoft ampliará em muito seu mercado. A ponto de ultrapassar Apple e Google? Talvez não. Mas uma está na ascendente e, outra, na descendente. Haverá espaço para um quarto jogador?
Nos últimos meses, a RIM fez dois movimentos. Reconheceu que não é mais apenas o celular do executivo e, ainda que acanhada, abraçou os adolescentes que o adotaram. Lançou, nos EUA, um sistema de compartilhamento de música. Mas, enquanto iPod, o BlackBerry ainda é um excelente celular de executivo. Também vai mexer no seu sistema para permitir que os novos aparelhos rodem apps de Android. É ceder a um dos vencedores. Mas ao menos traz um mundo de aplicativos que jamais seriam desenvolvidos. Ainda assim, comete erros incompreensíveis. Neste ano, dois novos modelos de BlackBerry chegaram ao mercado. No ano que vem, uma versão nova do sistema operacional será lançada. Os novos aparelhos não poderão ser atualizados. Quem compra algo condenado a ficar obsoleto? Não é à toa que muita gente já está escrevendo o obituário.

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