Fonte:
Agência Reuters
Data:
06/01/2012 15:49
No seu primeiro pronunciamento sobre o supernavio
afretado à Vale que rachou enquanto embarcava minério de ferro, a entidade que
representa a indústria naval brasileira diz que há limitações na redução de
custos na construção de embarcações.
"O incidente demonstra que há lições a se
aprender e que há um limite para a economia de custos em empreendimentos
pioneiros e inovadores para garantir a operação segura", disse à Reuters,
por e-mail, o presidente do Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria da
Construção e Reparação Naval e Offshore), Ariovaldo Rocha.
"O ocorrido com o navio da STX Pan Ocean
demonstra que a construção de navios não é uma atividade trivial. Projeto,
métodos construtivos e qualidade dos materiais são itens com grande impacto no
desempenho de um navio", acrescenta ele, em resposta a questionamentos
sobre o Vale Beijing.
O supercargueiro, que tinha acabado de ficar
pronto, sofreu rachaduras no terminal de Ponta da Madeira, no Maranhão, no dia
3 de dezembro, enquanto embarcava sua primeira carga de minério de ferro.
Algumas fontes ouvidas pela Reuters, que pediram
anonimato, disseram que o navio pode ter sido construído com aço de má
qualidade, que não teria resistido ao peso da carga, prevista para alcançar
quase toda a capacidade da embarcação, de 400 mil toneladas.
A STX Pan Ocean não retornou imediatamente a
pedidos da Reuters para comentários sobre a redução de custos e qualidade do
aço usado na construção do Vale Beijing.
O navio é um dos 35 supernavios da Vale para
transporte de minério de ferro que a Vale está adicionando à sua frota como
maneira de buscar reduzir custo com frete marítimo e o primeiro de oito
supercargueiros que serão entregues pela empresa coreana até 2013 para
transportar minério de ferro da Vale.
O conhecimento tecnológico, disse o Sinaval, tem
permitido melhor avaliação do desempenho dos materiais, o que possibilita
economias de custo de construção, mas que torna menores as margens de
segurança.
Os supernavios da Vale estão sendo construídos em
estaleiros da Coreia e China, países que constroem embarcações a preços mais
baixos que a média mundial. Os coreanos são conhecidos por produzir embarcações
modernas a preços competitivos.
O Sinaval defendeu estaleiros locais, que têm sido
alvo de críticas por alguns analistas por produzirem mais lentamente e a um
custo maior que os asiáticos.
"Os estaleiros brasileiros estão tecnicamente
preparados para enfrentar esses desafios e construir navios e plataformas de
petróleo para operar com grande segurança".
O custo de construção dos supernavios da Vale para
cada tonelada de capacidade equivale a metade do valor gasto para se construir
petroleiros da Petrobras, pelo estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco.
Cada supercargueiro da Vale com capacidade para
transportar 400 mil toneladas de minério de ferro tem custo estimado médio de
150 milhões de dólares. São 375 dólares de investimento para cada tonelada
transportada.
Dez navios da Petrobras tipo Suexmax, com
capacidade para carregar cerca de 170 mil toneladas, com a metade do tamanho
dos Valemax, foram encomendados ao estaleiro Atlântico Sul por 1,2 bilhão de
dólares, média 120 milhões de dólares por unidade, segundo a Transpetro,
subsidiária da Petrobras. São cerca de 765 dólares por tonelada de capacidade.
Floriano Pires, professor da Coppe, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que o incidente com o navio da Vale
pode em algum momento fazer construtores reverem os projetos de construção das
embarcações, considerado um dos mais baratos do mundo.
Em comunicado na quarta-feira, a STX Pan Ocean
afirmou que as outras sete embarcações do mesmo porte que serão afretadas à
Vale estão sob análise.
O diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura
(CBIE), Adriano Pires, diz que o problema do navio da Vale deve ser visto como
um erro isolado e não compromete as demais encomendas feitas aos estaleiros
mais competitivos.
"Não tem problema nenhum fazer navio no
Brasil, mas acho que tem que criar primeiro tecnologia local", disse
Pires.
O contrato de afretamento entre Vale e STX para os
navios gigantes, fechado em 2009, é da ordem de 6 bilhões de dólares, segundo a
empresa asiática.
A mineradora brasileira firmou contratos de
arrendamento para um total de 16 navios gigantes, conhecidos no mercado como
Valemax. Outros 19 navios gigantes foram encomendados para serem operados pela
própria Vale, num total de 35 embarcações do mesmo porte.
O Sinaval pondera que "acidentes com navios
acontecem".
"Os operadores de frotas e os estaleiros
construtores sempre acompanham incidentes deste tipo para aprender e evitar que
se repitam", diz a entidade.
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