A
atuação monopolista da Petrobras em um mercado de regulamentação
incompleta, e por isso frágil, permanece como um entrave à redução dos
preços do gás natural, afetando a competitividade da indústria, avaliam
representantes de setores industriais e especialistas. Em quase três
anos após a sanção do marco regulatório do setor, em 2009, que pretendia
estimular a chegada de novos atores, a companhia mantém o domínio sobre
todos os segmentos da cadeia produtiva. E, como maior consumidora do
país, determina a destinação do insumo.
Como
resultado, segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio
de Janeiro (Firjan), a tarifa média de gás natural paga pela indústria
no Brasil é de US$ 16,84 por milhão de BTUs (medida de referência para o
gás), 17,3% superior à média global de US$ 14,35.
A
Petrobras — cujo presidente, José Sérgio Gabrielli, já disse que a
companhia não tem gás adicional para entregar ao mercado até 2016 —
detém 95% da exploração do gás; 100% dos gasodutos domésticos; 50% do
gasoduto Brasil-Bolívia; 100% das instalações de gás natural liquefeito
(GNL); participação em 21 das 23 distribuidoras estaduais; 80% das
térmicas a gás e um terço dos postos de gás, além de ser o maior
consumidor. Por isso, embora a produção nacional de gás natural esteja
em 66 milhões de metros cúbicos (m3)/dia — suficiente para atender o consumo, de cerca de 49,8 milhões de m3/dia — o preço não cede.
— A
formação do preço no país é uma caixa preta — diz Antônio Carlos
Kieling, superintendente da Associação Nacional de Fabricantes de
Cerâmica para Revestimentos (Anfacer).
Para
a indústria de cerâmica, afirma Kieling, o impacto é muito grande,
porque o gás natural representa 25% do seu custo de produção.
O
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, admite que a estatal domina a
cadeia econômica do gás, mas informa que a nova regulamentação demora
para efetivamente atrair a iniciativa privada ao mercado. Lobão nega que
haja domínio na distribuição do gás, e lembra que as empresas são dos
governos estaduais e "a Petrobras entrou como linha auxiliar".
Com
respeito ao último leilão de termelétricas, frustrado porque a
Petrobras decidiu não fornecer o gás, o ministro diz que a estatal
precisa do gás para injetar nos poços de petróleo.
— A Petrobras não está escondendo gás — disse o ministro.
Fonte: Mônica Tavares, O Globo, janeiro/12
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