MATERIAIS ISOLANTES
4.1 – Introdução
Quando se trata de campos eletrostáticos, o meio no qual os
mesmos existem deverá ter resistividade muito alta, ou seja, deverá opor-se
tanto quanto possível, à passagem de corrente elétrica de condução, motivo pelo
qual recebe o nome de dielétrico. O material que o constitui é designado por
isolante.
O papel dos dielétricos na eletrotecnia é muito importante e
tem dois aspectos:
· realizam o isolamento entre os
condutores, entre estes e a massa ou a terra, ou, ainda, entre eles e qualquer
outra massa metálica existente na sua vizinhança;
· modificam, em proporções importantes, o
valor do campo elétrico existente em determinado local.
O processo principal, característico para qualquer dielétrico,
que se produz quando sobre ele atua uma tensão elétrica, é a polarização,
ou seja, o deslocamento limitado de cargas ou a orientação das moléculas
dipolares.
Os fenônemos devidos a polarização de um dielétrico podem
ser julgados através do valor da constante dielétrica e pelos ângulo
de perdas dielétricas, se a polarização vem acompanhada de dissipação de
energia que provoca o aquecimento do dielétrico. Neste aquecimento tomam parte
as poucas cargas livres que existem no material, as quais determinam o aparecimento
de uma corrente de fuga, que passa através do dielétrico e sua superficie.
A maioria dos dielétricos se caracteriza por um deslocamento
elétrico das cargas como uma função linear do campo elétrico que se cria no
dielétrico.
Todo dielétrico inserido em um circuito elétrico pode ser
considerado como um capacitor de capacidade determinada. Como sabemos, a carga
em um capacitor qualquer é dada por:
Q = C. U (1)
Onde C é a capacitância do capacitor e U a tensão aplicada.
A quantidade de carga Q, para um dado valor da tensão aplicada, é a soma de
duas componentes: Q0,
que é a carga que existiria se os eletrodos estivessem separados pelo vácuo, e
Qd,
que é devida a polarização do dielétrico que na verdade separa os tais
eletrodos.
Q = Q0 + Qd. (2)
Uma das características mais importantes de um dielétricos é
sua permissividade relativa ou constante dielétrica e. Esta magnitude é razão entre a carga
Q, obtida com uma determinada tensão no capacitor que contém um dado dielétrico
e a carga Q0,
que poderia obter-se com um capacitor das mesmas dimensões, com a mesma tensão,
se entre os eletrodos existisse vácuo.
Є = Q/Q0 = 1
+ Qd/Q0 (3)
Da expressão 3 se deduz que a permissividade relativa de
qualquer substância dielétrica é maior que a unidade. A constante dielétrica e também pode ser determinada pela razão
entre a capacitância de um capacitor com o dado dielétrico e a capacitância de
outro capacitor com as mesmas dimensões cujo dielétrico seja o vácuo.
Voltando ao estudo do fenômeno da polarização, deve-se
distinguir os tipos fundamentais de polarização:
· Ao primeiro tipo de polarização
pertencem as polarizações eletrônica e iônica que ocorre de um
modo praticamente instantâneo sob a ação de um campo elétrico e sem dissipação
de energia, se caracterizando por um deslocamento elástico de íons ou elétrons
ligados ao núcleo de um átomo. A polarização eletrônica diminui com o aumento
da temperatura, devido a dilatação do dielétrico e conseqüente diminuição do
número de partículas por unidade de volume. Já a polarização iônica é
intensificada com o aumento da temperatura, uma vez que se debilitam as forças
elásticas interiônicas quando aumentam as distâncias entre os íons quando o corpo
se dilata;
· A polarização dipolar difere da
eletrônica e da iônica com relação ao movimento térmico das partículas. As
moléculas dipolares, que se encontram em movimento térmico caótico, se orientam
parcialmente pela ação do campo, o qual é a causa da polarização. A polarização
dipolar é possível se as forças moleculares não impedirem os
dipolos de se orientarem de acordo com o campo. Ao aumentar a temperatura se
enfraquecem as forças moleculares e diminui a viscosidade da substância, de
forma que se intensifica a polarização dipolar. No entanto, ao mesmo tempo
aumenta a energia dos movimentos térmicos das moléculas, o que faz que diminua
a influência orientadora do campo. De acordo com isto, a polarização dipolar aumenta
a princípio com o aumento da temperatura, enquanto que o enfraquecimento das forças
moleculares influencia mais que a intensificação do movimento térmico caótico.
Depois, quando este última se intensifica, a polarização dipolar cai a medida
que aumenta a temperatura;
· A polarização estrutural aparece apenas
em corpos amorfos e em sólidos cristalinos polares como no caso do vidro, onde
um corpo amorfo é parcialmente constituído de partículas de íons. A polarização
estrutural vem a ser a orientação de estruturas complexas de material, perante
a ação de um campo externo, aparecendo devido a um deslocamento de íons e
dipolos, na presença de aquecimento devido a perdas Joule. Quanto a sua
dependência com a temperatura têm comportamento semelhante à polarização
dipolar.
As particularidades da polarização permitem dividir todos os
dielétricos em vários grupos.
Ao primeiro grupo podem pertencer os dielétricos que possuem
somente a polarização eletrônica, por exemplo as substâncias sólidas não
polares ou debilmente polares em estado cristalino ou amorfo (parafina,
enxofre, poliestireno), assim como os líquidos e gases não polares ou
debilmente polares (benzeno, hidrogênio e outros).
Ao segundo grupo pertencem os dielétricos que possuem ao
mesmo tempo polarização eletrônica e dipolar. São estas as substâncias polares
(dipolares) orgânicas, semi líquidas e sólidas (algumas resinas, celulose,
alguns hidrocarbonetos cloretados, etc).
Ao terceiro grupo pertencem os dielétricos inorgânicos
sólidos com polarização eletrônica, iônica e íon-eletrônica dipolar. Este grupo
pode ser dividido no subgrupo 1 com polarização eletrônica e iônica ao qual
pertencem principalmente as substâncias cristalinas com empacotamento denso de
íons (quartzo, mica, sal e óxido de alumínio) e o subgrupo 2 com polarização
eletrônica, iônica de dipolar ao qual pertencem os materiais que contem fase
vítrea (porcelana) e os dielétricos cristalinos com empacotamento não denso.
A um quarto grupo pertencem os componentes ferroelétricos,
que se caracterizam por ter polarização espontânea (nos campos elétricos
alternados, os materiais com polarização espontânea se caracterizam por uma
considerável dissipação de energia), eletrônica e iônica combinadas. Seriam
estes materiais o sal de Seignette e o de Rochelle, titanato de Bário e outros.
Esta classificação dos dielétricos permite que suas
propriedades elétricas sejam até certo ponto pré-determinadas.
4.2 - Comportamento dos Dielétricos em Serviço
Uma vez que uma certa porção de isolamento apresenta uma
dada resistência, podemos falar em resistividade do material, se bem que esta
seja influenciada por uma diversidade de fatores. Por exemplo, a temperatura
afeta sensivelmente o valor da resistividade e, de uma
maneira geral, o aumento da temperatura provoca uma diminuição
da resistividade dos materiais isolantes.
Resistência de Isolamento -
O dielétrico impede a passagem da corrente elétrica enquanto o campo elétrico
nele estabelecido não ultrapassar um determinado valor que depende da natureza
do dielétrico e das suas condições físicas.
Este impedimento porém, não é total pois, se uma determinada
porção do isolante estiver submetida a uma tensão U, ela será atravessada por
uma corrente I, sendo o quociente entre U e I designado por resistência de
isolamento.
A resistência de isolamento não é constante, isto é, os
isolantes não obedecem, de uma forma geral, à lei de Ohm. No caso do
comportamento dos gases, já vimos que só para valores baixos de tensão estes
obedecem àquela lei. No caso dos dielétricos sólidos, a curva de variação da
corrente com a tensão já tem um aspecto diferente.
Resistência Superficial -
No caso dos isolantes sólidos de muito grande resistividade, a resistência
através da sua massa é também elevada, sendo muito pequena a corrente que os atravessa.
Ora acontece que, pela acumulação de poeira e umidade na superfície das peças isoladoras,
se forma um novo caminho para a passagem da corrente elétrica, o qual se diz
ser superficial.
Isto acontece especialmente nas peças isoladoras expostas ao
tempo, como por exemplo, os isoladores de linhas de tranmissão aéreas. À
resistência do novo circuito é dado o nome de resistência superficial e, neste
caso, a resistência de isolamento é dos dois circuitos em paralelo, superficial
e de massa.
O aumento da temperatura faz atenuar a importância da
resistência superficial, pois a de massa decresce em relação àquela.
Rigidez Dielétrica -
Para poder exprimir numericamente a capacidade de um determinado material
isolante suportar tensões elevadas, define-se uma grandeza a que se dá o nome
de rigidez dielétrica e que é definida como sendo o valor do campo elétrico
para o qual se
dá a ruptura do isolante.
Esta grandeza está longe de ser constante para cada
material, pois depende de muitos fatores, tais como a espessura do isolante, as
dimensões e forma dos eletrodos utilizados para a aplicação da tensão, a
freqüência da tensão aplicada, o número de aplicações de tensão na unidade do
tempo (fadiga do material), a temperatura, grau de umidade, etc.
Como é difícil conhecer o valor do campo no momento da
ruptura, visto ele não ser normalmente uniforme, é costume definir-se a rigidez
dielétrica (RD) simplesmente pelo quociente da tensão aplicada no momento da
ruptura pela espessura do isolamento e como a R.D.varia com a espessura do
isolante é costume indicar esta ao referir aquela. Por exemplo para a mica a RD
varia de 600 a 750 kV/cm, medida para espessura de 1mm.
Rigidez dielétrica superficial - No caso dos isolantes sólidos, pode acontecer que o arco disruptivo,
em vez de atravessar a sua massa, salte pela sua superfície.
Ao quociente da tensão pela distância entre os condutores é
dado o nome de rigidez dielétrica superficial. Esta depende, evidentemente, da
forma do isolante e do estado da sua superfície.
Perdas nos dielétricos -
Nos dielétricos sujeitos a uma tensão contínua verifica-se uma perda por efeito
Joule tal como nos condutores. A corrente de perdas, se bem que muito limitada,
dá lugar a um certo aquecimento. Estas perdas não têm
importância a não ser quando dão lugar a um aquecimento permitindo, por
conseqüência, maior corrente e maiores perdas.
Nos dielétricos sujeitos a uma tensão alternada dá-se, da
mesma forma, a perda por efeito Joule, mas surge um outro fenômeno que origina
perdas e que tem o nome de histerese dielétrica. A energia perdida é também
transformada em calor. O nome deste fenômeno é dado pela analogia existente com
a histerese magnética. A explicação física das perdas por histerese dielétrica
é dada por consideração da falta de homogeneidade do dielétrico.
Ângulo e Fator de Perdas -
Quando um dielétrico está sujeito a um campo elétrico alternado, a corrente que
o atravessa deveria estar avançada de ∏/2 em relação à tensão, mas pelo fato de
existir uma queda ôhmica através da massa do isolante, haverá uma componente da
corrente que fica em fase com a tensão e o ângulo de diferença de fase será (∏/2
- d), sendo d chamado ângulo de perdas. Este valor
pode ir de poucos minutos, se o dielétrico for bom, até a alguns graus, se for
de má qualidade.
À tgd, que pode tomar
igual ao ângulo expresso em radianos (por se tratar de ângulos muito pequenos)
é dado o nome de fator de perdas. A potência perdida no dielétrico será dada por:
P = U.I.cos(p/2 - d) = U.I.send » U.I.d (4.4)
Cada material é caracterizado por um certo fator de perdas,
o qual, contudo, depende das condições físicas a que o mesmo se encontra
submetido, principalmente a temperatura.
Ruptura dos Dielétricos -
Quando o campo elétrico a que um dado dielétrico está sujeito ultrapassa um
determinado valor se dá a ruptura do dielétrico. A maneira como esta se produz
e as suas conseqüências são porém, diferentes conforme o tipo de dielétrico.
Assim, é compreensível que, se a ruptura se produzir num
dielétrico fluido, a matéria atingida pela descarga é logo substituída por
outra e, se o fenômeno não repetir, a sua única conseqüência é o aparecimento
de partículas carbonizadas no seio do fluido.
No caso dos dielétricos sólidos já assim não acontece, pois
a descarga implica a sua destruição no ponto em que a ruptura se verifica.
Efeito Corona -
Se, entre dois condutores, existir uma grande diferença de potencial, junto às
suas superfícies poderá surgir um campo elétrico de valor tal que o gás ou o
ar, no meio do qual se encontram seja ionizado.
Se isto acontecer, o efeito obtido é equivalente ao aumento
das dimensões dos condutores, visto o gás ou o ar ionizado se tornar condutor
também. Nessas condições, dá-se como que uma aproximação dos condutores e um
aumento da sua superfície. Estes dois fatores que se verificam tendem a
modificar o campo nos dois sentidos, prevalecendo um ou outro conforme as
circunstâncias.
De uma maneira geral, podemos dizer que, se os condutores
forem de pequena seção e estiverem bastante afastados, o efeito da ionização
traduz-se por uma diminuição do campo na zona circunvizinha. Desta forma,
ionizada a primeira camada que envolve os condutores, a ionização não prossegue
nas camadas seguintes e o fenômeno não progride.
A ionização limita-se como que a uma bainha à volta dos
condutores, visível sob o aspecto de uma luz azulada e sensível pelo cheiro a
ozônio. Esta situação é aquilo a que chamamos de efeito coroa ou corona.
Se a forma e a distância dos condutores forem outras, pode
dar-se o contrário, isto é, o campo ir mantendo nas camadas sucessivas valores
suficientemente altos para provocarem a ionização até o ponto de se estabelecer
um caminho de gás ou ar ionizado entre os condutores.
As cargas elétricas deixam de encontrar resistência e passam
em grande quantidade de um condutor para o outro, sob a forma de um arco. É a descarga
elétrica.
4.3 - Materiais Isolantes
Conforme a aplicação, alguns isolantes apresentam, em certos
casos, nítida superioridade sobre outros, sendo inteiramente inadequados em
casos diferentes.
O exemplo da porcelana é típico: sendo material excelente
para isolamento de linhas aéreas, pelas suas propriedades dielétricas, químicas
e mecânicas, é inteiramente inadequada aos cabos isolados, pela falta de
flexibilidade.
A borracha apresenta excelentes qualidades químicas,
mecânicas e elétricas, de modo que é geralmente utilizada nos fios e cabos, mas
não é completamente a prova de água, não resiste a temperaturas elevadas, é
atacável pelos óleos e pelo ozona.
O fato de um material apresentar propriedades elétricas
muito superiores a outros ( alta rigidez dielétrica, alta resistividade, baixas
perdas) não é suficiente para determinar o seu emprego se as qualidades
mencionadas não forem acompanhadas de propriedades químicas e mecânicas adequadas.
Assim, às boas propriedades elétricas pode corresponder uma redução de
espessura do isolante a empregar nos condutores das máquinas elétricas; é porém
necessário que o material seja suficientemente forte para resistir aos esforços
mecânicos durante a construção e o funcionamento.
Muitas das substâncias industrialmente empregadas como
isolantes não são inteiramente homogêneas - especialmente as de origem orgânica
como o algodão, seda, madeira, óleos, etc - sendo além disto em geral
deterioráveis.
Uma primeira classificação dos isolantes pode ser feita de
acordo com o seu estado:
I - Gases:
Ar, anidrido carbônico, azoto, hidrogênio, gases raros, hexafluoreto de
enxofre.
II - Líquídos:
A - Óleos minerais: óleos para transformadores,
interruptores e cabos.
B - Dielétricos líquidos à prova de fogo: Askarel.
C - Óleos vegetais: Tung, linhaça.
D - Solventes: (empregados nos vernizes e compostos
isolantes) Álcool, tolueno, benzeno, benzina, terebentina, petróleo, nafta,
acetatos amílicos e butílicos, tetracloreto de carbono, acetona.
III - Sólidos aplicados em estado líquido ou pastoso:
A - Resinas e plásticos naturais: resinas fósseis e
vegetais, materiais asfálticos, goma laca.
B - Ceras: cera de abelhas de minerais, parafina.
C - Vernizes e lacas: preparados de resinas e óleos
naturais, produtos sintéticos, esmaltes para fios, vernizes solventes, lacas.
D - Resinas sintéticas: (plásticos moldados e laminados)
resinas fenólicas, caseína, borracha sintética, silicones.
E - Compostos de celulose: (termoplásticos) acetato de
celulose, nitrocelulose.
F - Plásticos moldados a frio: cimento portland empregado
com resinas ou asfaltos.
IV - Sólidos:
A - Minerais: quartzo, pedra sabão, mica, mármore, ardósia,
asbesto.
B - Cerâmicos: porcelana, vidro, micalex.
C - Materiais da classe da borracha: borracha natural,
guta-percha, neoprene, buna.
D - Materiais fibrosos (tratados e não tratados): algodão,
seda, linha, papel, vidro, asbesto, madeira, celofane, rayon, nylon.
Além desta classificação cujo critério é a natureza dos
materiais isolantes, estes podem ser classificados visando a sua aplicação,
especialmente na construção de máquinas e aparelhos elétricos, cuja temperatura
é limitada não pelos materiais condutores ou magnéticos (que são metálicos) e
sim pelos isolantes. A durabilidade destes depende de fatores diversos, entre
os quais predomina a temperatura, como mostrado na tabela a seguir.
A duração dos materiais utilizados para isolamento de
máquinas e aparelhos elétricos depende de vários fatores, tais como a
temperatura, os esforços elétricos e mecânicos, as vibrações, a exposição a
produtos químicos, umidade e a sujeira de qualquer espécie.
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