Fonte: Folha de São Paulo
Data: 13/01/2012 10:39
Juntamente
com o ano de 2011, acabou em 31 de dezembro a política de subsídios ao
etanol produzido nos Estados Unidos que impunha uma tarifa de importação
de US$ 0,54 por galão ao etanol brasileiro e determinava um crédito
tributário de US$ 0,45 por galão ao etanol misturado à gasolina nos EUA.
O fim das medidas protecionistas nos EUA representa uma vitória do setor.
No
entanto, a abertura do mercado americano, que poderia significar um
forte impulso para a indústria nacional, veio num momento em que a
ausência de políticas públicas para o setor faz com que a produção não
consiga atender nem mesmo a demanda doméstica, levando o país a importar
etanol.
As importações de janeiro a outubro já são mais de dez vezes maiores que no mesmo período de 2010.
O
governo lançou algumas medidas ao longo do 2º semestre, com o objetivo
de incentivar o setor, mas que acabaram por aumentar a intervenção no
mercado de combustíveis sem que houvesse estímulo a novos investimentos e
aumento da produção.
Em 13 de dezembro foi publicada no "DOU" a resolução nº 67 da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A
resolução estabelece regras para os contratos e percentuais de
estocagem do etanol, mas não contém dispositivo que incentive os
investimentos no setor ou o aumento da produção.
A
seguir, em 26 de dezembro, foi bem-vinda a medida provisória (MP)
554/2011, que concedeu incentivos à estocagem de etanol com o objetivo
de aliviar os encargos financeiros dos produtores e distribuidores,
originados pela resolução da ANP.
Embora
essa medida provisória represente um avanço, uma antiga reivindicação
dos produtores de etanol, que é a desoneração de PIS e Cofins, não foi
efetivada.
Essa
desoneração faria todo sentido, uma vez que se estaria incentivando o
consumo de um combustível limpo e renovável. Hoje, a cobrança de
PIS/Cofins no etanol totaliza R$ 0,46, enquanto na gasolina, escassa e
poluente, é apenas de R$ 0,26.
Tanto
faz sentido desonerar os combustíveis renováveis que em 14 de dezembro
foi publicada a lei 12.546/2011, que isenta as usinas do pagamento de
PIS/Cofins sobre as matérias-primas usadas na produção do biodiesel.
A
falta de uma política de incentivos corretos torna-se ainda mais
perigosa uma vez que, com a abertura dos EUA ao etanol brasileiro, um
novo mercado consumidor se apresenta aos produtores, concorrendo com o
mercado doméstico.
O
resultado pode ser elevação de preço e escassez de oferta interna, uma
vez que a exportação passa a ser uma alternativa viável.
O
risco é que, diante dessa possibilidade, o governo volte a adotar
medidas intervencionistas como a restrição à exportação do etanol para
manter a oferta doméstica, jogando fora a oportunidade que levamos 30
anos para conquistar.
O
curioso em tudo isso é que, enquanto o governo americano caminha na
direção de incentivar o consumo de combustíveis limpos, o Brasil parece
dar uma marcha a ré, optando por sujar a sua matriz de combustíveis.
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