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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

JORNALISTAS MARANHENSES - OTHELINO NOVA ALVES - O MÁRTIR DA IMPRENSA LIVRE

OTHELINO NOVA ALVES


Nasceu Othelino Nova Alves, no dia 15 de outubro de 1911, no bairro da Jordoa, em São Luís, MA. Jornalista profissional, estudioso de direito, foi advogado de todos os partidos trabalhistas que se organizaram no Brasil. Paradoxalmente, na ditadura Vargas, ele desapareceu certo dia e, só meses depois, foi encontrado, pele e osso, no porão de uma das celas da ditadura, onde foi acerbamente torturado.

Fundador e presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Luís, em que foi reempossado por sucessivas gestões, no campo sindical, foi uma das mais expressivas lideranças, especificamente na área de comunicação.

Foi dirigente da Federação Naciodonal dos Jornalistas e da Associação Brasileira de Imprensa.

Decorridos alguns anos de sua morte, em todos os congressos e convenções nacionais de jornalistas, prestam-lhe significativa homenagem, ressaltando o brilho de sua inteligência, a deliberada, obstinada e determinada coragem, ao engajar-se nas lutas mais memoráveis da categoria de que se fez porta-voz e, á qual dignificou, ao longo de sua profícua existência.

Poucos dias antes de ser assassinado, escreveu um artigo intitulado A Lei da Rolha, lei através da qual os militares de 1967 iriam cercear a liberdade de imprensa.

No ano subseqüente, veio o AI5 que restringiu, ou melhor, acabou com as liberdades pública e individual. E como, segundo Vicco, a História se repete, neste ano 2000, tramita, no Congresso Nacional, a chamada Lei da Mordaça, pior que o AI5.

Othelino, durante muitos anos, esteve ao lado de Neiva Moreira, em O Combate. Era advogado provisionado, tendo sido considerado por Colares Moreira a maior expressão de conhecimento do processo eleitoral, só encontrando paralelo em Clodomir Milet, que era médico.

Em homenagem a Othelino, foi instituído, através de Decreto Legislativo o prêmio “Othelino Nova Alves” de Jornalismo, de abrangência nacional, cuja finalidade é a defesa da manutenção do estado democrático de direito.

Após a sua morte, em 30/09/1967, no lugar em que foi barbaramente assassinado, na rua de Nazaré, erigiu-se um busto e o trecho foi batizado de Espaço da Liberdade Othelino Nova Alves, através de Lei municipal.

Dias após a sua morte, assaltaram a sede do Sindicato dos Jornalistas, na Rua Afonso Pena, para roubarem vários documentos, que comprometiam as elites dominantes. E acabaram roubando os originais do seu livro Minha Vida e Minha Obra, prefaciado por Nauro Machado.

Ao defender as liberdades e os oprimidos, sofreu inúmeras agressões, também fora do Estado do Maranhão, como no Ceará, Pará, Piauí e Amazonas, onde um ex-governador teria sido o autor intelectual do atentado. No Ceará, foi um senador da República. No Maranhão, as elites que não concordavam com as denúncias que fazia sobre a corrupção, com a pena desassombrada, no Jornal Pequeno, sua trincheira, ao lado do amigo Bogéa.

Othelino usou a Praça e os tribunais para defender os humildes e acusar os poderosos que, na calada da noite, usavam de maquinação e subversão, autoritarismo, arrogância, prepotência e intolerância, sob a capa da Justiça.

NA LIÇA..
NO PANTEON NÃO HÁ LUGAR PARA OS PARLAPATÕES!

Othelino Nova Alves
(Jornal Pequeno, 15/07/1967)

Estou seguramente informado de que certo grupo palaciano anda açoitando o cão com a vara pela Corregedoria Geral do Estado, com o objetivo de fazer movimentar ridículos, cavilosos e imaginários processos forjados contra mim, por figuras menosprezíveis, incapazes de me enfrentar nas lides jornalísticas e sem o trânsito livre e confortador que tenho, graças a Deus, perante a opinião pública da minha terra.

Saibam todos, protetores e protegidos que, quem faz absoluta questão de que andem os processos, e andem a jato, sou eu.

Etanto assim ocorre, que estou sempre nos Cartórios solicitando prosseguimento dos feitos, com a maior brevidade, pois, na verdade, na verdade eu vos digo, quanto mais depressa andarem tais processos, mais tranqüilos e mais segura será a prova fulminante, que farei, demonstrando a iniqüidade dos mesmos.

Não irei pedir favores a quem quer que seja. Não irei procrastinar uma só audiência. Não irei impedir o comparecimento de uma só testemunha. Não irei suar de artimanhas e sofismas com o objetivo de tumultuar o andamento dos feitos.

Contra mim nada existe, senão o temor dos carcomidos, dos calhordas, dos incapazes, dos falsários, dos pulhas, dos descategorizados e desqualificados, dos que têm vivido de enganar o povo.

Contra eles – todos eles – eu tenho provas esmagadoras, irrefutáveis, irretorquíveis, irrefragáveis, quer nos bojos de processos, quer em meu poder, uma delas de estarrecer a toda a população maranhense, provas que serão usadas legitimamente como legitimamente são praticados todos os meus atos.

Não irei pedir soluções políticas para os tais feitos, nem admito arranjos. Não desejo que nenhum deles seja julgado sem Relator, se for o caso, para haver designação “a posteriori” e, mesmo assim, ficar na berlinda o acórdão, de maneira a ser esquecido, e depois, publicado sem que as partes tenham conhecimento, já exaustas de esperar por um dever de dignidade judicante do magistrado a quem cabe a responsabilidade de sua lavratura.

Não irei pedir que fiquem os processos na geladeira... Não! Estou solicitando, de público e razo, o andamento de todas, observadas as diligências requeridas pela minha defesa e os meus depoimentos.

Assim, fala quem não teme. Assim procede quem tem a consciência tranqüila do dever cumprido, assim fala quem não teme, comparece perante os julgadores, porque, graças a Deus, arrima-se sempre, e invariavelmente, na verdade, a mais sublime de todas as Virtudes, a maior e mais poderosa de todas as Armas.

Volto, agora, a reafirmar que, no caso Buraqueira, agíramos na mais legítima defesa da nossa honra profissional, reagindo contra a injúria, calúnia e difamação e, ainda, refletindo a opinião pública.

E, ao ensejo deste novo pronunciamento, é dever salientar que temos os elementos probantes de nossas assertivas, pelo que estamos, todos nós do Jornal, tranqüilos e despreocupados, sem precisarmos de acomodações nem de arranjos; mesmo porque não usamos de tais expedientes.

Quem for podre, que se quebre! 

Oque devem saber tais interessados no andamento dos processos – sobreleva recordar– é que nós temos reptado, por muitas vezes, o prefeito Buraqueira a dizer como paga uma Representação na Guanabara, sem que tenha ele tido a coragem de dizer uma só palavra. É que, segundo a Lei de Responsabilidade, terá que responder pelas despesas não autorizadas. E à Câmara Municipal de São Luís cabe o dever cívico, moral, legislativo e fiscalizador de saber como é feito tal pagamento, como é mantida a citada Representação. Desta feita, fica o repto à Câmara.

Seja dito, afinal de uma vez por todas, a esses gaiatos de gravata, que eles não passarão à história, porque no Panteon não há lugar para os parlapatões.

Que encanguem os processos e venham, pois a nossa arma será sempre a de sempre: a Verdade!

Oque parece dever de honra para a magistratura maranhense, sem a menor dúvida, é o julgamento do célebre Crime da Base Aérea, cuja demora constitui uma permanente interrogação de parte do povo, de todas as camadas sociais, não sendo nada agradável o conceito feito, em muitas delas, pela conduta da Justiça em retardado, inexplicavelmente, esse julgamento, que é que tem que ser uma questão de honra. Não desejava mais focalizá-lo nesta Coluna, senão ao seu término, mas a impertinência de tais gaiatos força-me a este resumido e parcimonioso pronunciamento, nem parênteses que preferia não registrar.

De resto, registrem todos estas afirmativas: não arredaremos um só milímetro da posição assumida.

NA LICA
DIANTE DE UM DOCUMENTO QUE PASSARÁ À HISTÓRIA

Othelino Nova Alves
(Jornal Pequeno, 08/10/1966)

Permitam-me os meus queridos leitores, pelos quais tenho o mais profundo respeito, que transcreva linhas a seguir, um documento que passará à história e servirá de patrimônio aos meus descendentes.

Otrabalho, fruto da inteligência e da cultura de Nauro Machado, destina-se ao prefácio de um folheto em torno do chamado Crime da Base Aérea, tendo o consagrado escritor, poeta maranhense, se inspirado no pronunciamento do Dr. Esmaragdo de Sousa e Silva, Procurador Geral do Estado.

Eis, pois, na íntegra, a matéria que publico com os meus agradecimentos ao ilustre rebento de uma das famílias mais honradas da nossa terra.

A Consciência de um Povo
Nauro Machado

Sabemos os motivos por que o Maranhão, escamoteado em vinte e poucos anos de sua predestinação histórica, não se deixou capitular ante a investida de corruptas mentes, cevadas pela prepotência dos iníquos e adormecidos no engodo de um efêmero poder : pessoas houve que tiveram o doloroso encargo da resistência, pessoas cuja luta pôde ressarcir o inominável crime da omissão de quase toda uma coletividade.

Pouquíssimos foram, realmente, os homens que resistiram aos processos reveladores de deterioração moral, e muitíssimos aqueles que, por comodismo ou covardia, conivência ou despreparo, resolveram silenciar ante o que viam, na cegueira do espírito e na castração do próprio respeito. 

Se, desde os tempos de O Combate, Othelino Nova Alves era o jornalista temido e veemente, leal e vigoroso, muito mais passou a sê-lo após o atentado brutal de que foi vítima, no ano de 1960. Homem de caráter forte, pôde Othelino consubstancializar em sua personalidade a consciência cívica de nossa gente, a capacidade de resistir de todo um povo. Conhecendo-se-lhe a luta, sabemos a causa por que o Maranhão não poderia, como não pôde, capitular. 

Desnecessário se nos torna, neste preâmbulo, recapitular os lances do chamado Crime da Base Aérea, as degradantes cenas do seqüestro e conseqüente seviciamento a que foi submetido o jornalista Othelino, num ato medieval comandado diretamente pelo então poderoso Chefe de Polícia daquela época. O necessário é que se tome conhecimento, através do Pronunciamento do Ministério Público, ora dado à lume, do que significava a justiça em terras maranhenses, de como os homens encarregados de defendê-la e praticá-la, tripudiavam cinicamente sobre os postulados jurídicos, transformando-os em uma cloaca de acumpliciamento governamental.

Oleitor das páginas a seguir encontrará fatos realmente de estarrecer, como bem acentuou o Exmo. Sr. Dr. Esmaragdo de Sousa e Silva, Procurador Geral do Estado. Que o leitor consciencioso sobre eles medite.

Este não é um processo de origem kafkaniana, em que pese a simbologia de um oculto pesadelo e a barbárie tecida pelas mãos do terror. Os fatos são por todos conhecidos e a culpabilidade dos indiciados mais do que evidente. O crime foi perpetrado de fato e as chagas dele resultantes ainda sangram:

Não nos arvoremos em defensores da lei de Talião nem de inexorabilidade da vindita. Queremos, isto sim, que, com a severa punição dos culpados, haja, por quem de direito, o respaldo dos postulados mais fundos da decência e dignidade humana.

Othelino Nova Alves, com o exemplo da sua coragem e a pertinência da sua honra, é bem o testemunho da nossa esperança e o escudo da nossa fé. A certeza que temos na punição dos culpados é a mesma que depositamos no altar da justiça e aos pés da verdade. Pois, a Justiça é como o ventre da terra na fecundação da aurora: abrindo-se em luz, sua raiz cresce pura para os homens que a querem e respiram, límpida, como a verdade, e não para aqueles outros que a querem e respiram imundas, já que chafurdam e vivem na lama, como porcos.

Que Deus ilumine os magistrados desta Terra.

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