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quinta-feira, 1 de março de 2012

JORNALISTAS MARANHENSES - ERASMO DIAS

ERASMO DIAS


Erasmo Dias foi o nome literário e jornalístico que Erasmo de Fontoura Esteves Dias escolheu para registrar a sai imagem no texto e, através dele, permanecer vivo, após a morte.

Erasmo Dias nasceu em São Luís (MA) em 1916 e faleceu nesta cidade – ilha ainda sob o signo dos últimos cantares da helenização, em 15/05/1981.

Passou a infância e adolescência em Cururupu, MA.

Erasmo foi um escritor de estilo fluente, destacando-se como romancista, contista, ensaísta e crítico literário. Neste campo de domínio de conhecimento literário, do que não se perdeu, Nauro Machado resgatou-o na obra Erasmo Dias e Noites. Boêmio, a sua casa dos Apicuns, tornou-se um ponto de encontro de jornalistas, intelectuais, escritores e aspirantes às Letras.

Onde quer que estivesse, no bar, nas ruas, em restaurantes, na Academia Maranhense de Letras, em comícios, em casa, Erasmo era o mestre, capaz de transformar um simples bate-papo em verdadeira conferência, em aula sobre quaisquer assuntos em questão.

Membros da Academia Maranhense de Letras, na simples leitura do texto do romance Maria Arcângela, pode-se perceber onde poderia haver chegado esse romancista, mestre de obra romanesca que se dizia tão vasta, roubada ao baú do Erasmo que não teve nem a sorte do Erasmo de Roterdam, nem de Fernando Pessoa.

Do andar de cima, Erasmo acompanha a viagem dos seus textos adotados como filhos legítimos não se sabe por quem.

Santo de Pau
Erasmo Dias
(O Combate, 19/11/45)

Quando o sr. Clodomir Cardoso subiu as escadas do Palácio dos Leões, sabia-se, efetivamente, que a sua tarefa, ali, era fazer política. Sabia-se, com certeza, que ele, em servindo a sua terra, vinha a mando de Getúlio Vargas e, portanto, como parcela integrante do seu regime, que infelicitou a ação, nos dias tormentosos de 37 a 45.

Sabia-se que o então condutor dos destinos da terra maranhense era o mais moço dos delegados ditatoriais e, por conseguinte, o mais intrépido e o mais inescrupuloso dos brasileiros do Maranhão que, ao pisar na sua terra, pisou-a com máscara de Libertador, de supremo juiz das mais justas reivindicações. Sabia-se que o sr. Clodomir Cardoso era um enviado direto do Catete, um agente estadonovista, mas sabia-se que, no íntimo, Clodomir Cardoso era o grande defensor de tantas causas edificantes que quase sempre têm como marco simbólico grandes vultos da História. Não nos importava, a nós, que o ilustre jurista tivesse ascendido ao trono da política maranhense, alevantado pelos braços de bronze da Ditadura. Não nos importava porque Clodomir Cardoso estava firmado na consciência do seu povo e ninguém duvidaria da religião que lhe edificara, entre os que sempre admiraram o nome, o respeito a que faz juz um autêntico intérprete da Justiça e da Liberdade. Vimo-lo, muitas vezes, ameaçado pelo convívio perigoso do sr. Vitorino Freire. Vimo-lo, quantas vezes, seduzido pelo brilho do próprio guante que marcou, para sempre, a vergonha dos seus irmãos. Vimo-lo cheio de uma vaidade aberrante, entrelaçar-se nas mãos criminosas desse forasteiro ousado, mas, sempre que lhe abordávamos o nome, tínhamos a convicção de que a política, no seu caso, erro o mais ingrato dos recursos humanos, quando o homem, com um riso, dissimula a lágrima interior. Chegávamos, mesmo, por esta colunas, a confessar que Clodomir Cardoso de jornadas gloriosas, esse próprio Clodomir que fora ao Palácio dos Leões e, hoje, subterraneamente, expande, pouco e pouco, o despeito que lhe ficara da magnífica sucessão dos seus dias, - esse Clodomir, então, que seria o grito da incapacidade, concretizada na sua decadência moral, é o Clodomir que lança mãos do dinheiro público do seu Estado e, com rótulos mentirosos, monta uma oficina eleitoral para ascender ao trono do Pátria Brasileira, aquele de quem não negam grandes anseios de “continuar a obra getulitária”. E esse Clodomir que subiu ao Céu, desceu ao Inferno e nunca mais ressurgirá dos mortos, é o Clodomir bilioso, enfermo, decadente, vencido que, no estertor da sua crise moral, demite prefeitos, admite agentes da sua confiança, faz das repartições públicas da sua terra um reduto da sua política e, ainda por fim, arranca, barbaramente, à boca de pobres e funcionários que não rezam por sua cartilha, o pão que seria a vaidade dos que endeusam a prática de tão astuto ensinamento.

Mas Clodomir Cardoso há de por terra colear-se, um dia, na mais esmagadora de suas decepções. Ruem as primeiras colunas do edifício Ditatorial, no Brasil, e, um dia, a casa cai… O presidente Linhares sucede a Vargas, o ministro Dória a Agamenon e, no Maranhão, Eleazar Campos a Clodomir Cardoso.

Tudo estava feito.

A máquinha eleitoral, em nosso Estado, já havia sido montada por mecânicos de “fibra”.

A vitória do general Dutra já estava garantida na consciência do povo maranhense, “porque, em cada canto da nossa terra, havia um delegado governista e, portanto, um autêntico senhor da situação”.

Mas a que, enfim, viria o sr. Desembargador Eleazar ao Maranhão? Assistir, simplesmente, ao movimento dessa máquina, deixando-o seduzir pela potência dos seus motores? É isto, exatamente, o que ambiciona, ainda, o sr. Clodomir. É isto, sinceramente, o que leva, ainda, o infeliz decaído a recorrer às colunas do seu jornal, apontando o interventor Eleazar como um transgressor à Justiça e ao Direito, quando reconhece que não pode haver um pleito livre e honesto presidido por delegados comprados e, previamente, o que leva o sr. Clodomir a agitar-se, confuso, no seu subterrâneo político e moral, para atacar um magistrado que, atendendo a um dos momentos de forasteiro audazes e nem mesmo de políticos mirins, cuja “sublime obsessão” é a sublime tarefa de governar um povo!

Eleazar Campos veio ao Maranhão em nome da Justiça e, em nome dela, há de se realizar, em dezembro, o maior anseio do povo maranhense que é escolher, nas urnas, livre e honestamente, o seu legítimo representante nacional. Eleazar Campos tem, igualmente, um passado brilhante, mas ainda não disse, como Clodomir Cardoso, que tem um nome a zelar… Todos, porém, o sabemos e ninguém duvida de que o ilustre maranhense não possa testemunhar, na sua terra, a dignidade dos magistrados brasileiros que o sr. Clodomir Cardoso afrontou com o mais vil dos seus sentimentos políticos. Todos sabemos que Eleazar Campos, na integridade dos seus sentimentos profissionais, é o cidadão a quem a Pátria recorre, neste momento perigoso da sua vida política para garantir, na sua terra, o legítimo direito de um povo. Fugir, portanto, a um apelo da Pátria seria, como o sr. Clodomir Cardoso, afundar-se no caos da repulsa pública, afastado da confiança do seu povo e do amor da sua terra. Clodomir Cardoso que, a medir pela maneira deselegante com que passara o governo do Maranhão ao seu sucessor, é a expressão mais dolorosa de uma velhice decadente, é, neste instante, a figura trágica de um desertor que desapercebe a lembrança dos próprios crimes que cometera. Todos bem lhe sabemos o complexo de que se reveste neste hora duvidosa de sua política. E tão bem lho sabemos que não lhe ocorre à lembrança a atitude desassombrada do interventor de S. Paulo que assina um telegrama como o que, há pouco, foi publicado na imprensa pessedista de São Luís. Se, para garantir a honestidade de um pleito, o sr. Eleazar Campos demite prefeitos e Clodomir Cardoso lhe atribui os mais graves erros de cidadão e juiz, ai do sr. Eleazar se chegasse, no Maranhão, a assinar um telegrama como o que o sr. Macedo Soares assinou em São Paulo!

Clodomir, então, não seria esse santo de pau, que joga a pedra e esconde a mão. Seria, noutra hipótese, o que o povo maranhense devia ser-lhe, quando lançou mão daquilo que lhe não pertencia para montar uma oficina de politicagem bárbara.

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