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segunda-feira, 12 de março de 2012

JORNALISTAS MARANHENSES - AMARAL RAPÔSO


AMARAL RAPÔSO


Amaral Rapôso foi o nome de batismo de José Raposo Gonçalves da Silva que nasceu a 27 de maio de 1906, no município de Grajaú, MA.

Exerceu as funções de inspetor federal da Instrução Pública, no Estado da Bahia, de chefe de gabinete, na Interventoria de Saturnino Bello. Foi deputado estadual, diretor da secretaria da Assembléia Legislativa do Maranhão, diretor da Biblioteca Pública Benedito Leite e chefe de gabinete do governo do Rio Branco. Aposentou-se como Diretor da Assembléia Legislativa do Estado. Jornalista voltado para a defesa do correção gramatical, de sua pena saíam textos mordazes, cuja base era a sátira.

Espirituoso, repentista, improvisador, boêmio, poeta, músico, seresteiro. O violão era-lhe um companheiro inseparável. Escreveu, entre outros jornais, em O Combate, Diário do Povo e em o Jornal Pequeno, sua trincheira.

A paixão de Amaral Rapôso pela gramática da Língua Portuguesa tornou-se uma obsessão tão intensa, que durante sucessivos artigos ele criticou desde documentos da Presidência da República, até textos de amadores. Com isso, quem saiu lucrando foi a Língua Portuguesa, pois essa neurose pelo purismo gramatical, acabou por gerar inúmeras polêmicas, as quais serviram para elucidar casos complexos de ortografia, de regência, de concordância, de colocação de pronomes, bem como de redação oficial.

Amaral Rapôso, apesar de ter conquistado alguns desafetos, soube, mais que ninguém, com seu estilo picante, mordaz, satírico, passar ao público uma convicção da necessidade absoluta de conhecer-se a Língua Portuguesa.

Foi membro da Academia Maranhense de Letras.

O MARANHÃO NA MENSAGEM PRESIDENCIAL

AMARAL RAPÔSO
(Correio do Nordeste, 01/05/1963)

Há dois tipos de literatura que me inspiram grande simpatia e não menor admiração. Refiro-me às mensagens oficiais e às bulas de medicamentos. Ambas são de um otimismo que toca as raias de um sem-cerimônia. Com as primeiras, os laboratórios anunciam a cura de todas as doenças imagináveis; com as segundas, resolvem os governos todos os problemas administrativos. No papel, está claro.

Pois bem. O Maranhão foi lembrado na Mensagem que o Senhor João Goulart acaba de remeter ao Congresso Nacional, na abertura da sessão legislativa do corrente ano.

Foi, com efeito, uma referência ligeira. Mas nem por isso deixou de me causar um grande entusiasmo. Porque S. Exa. ali nos deu notícia de um importantíssimo trabalho, que está sendo executado pela SUDENE, em nossa terra.

Trata-se de obra tão vultosa, de tanta significação para nossa vida econômico-social, que nos dá ímpetos nativistas de sair gritando, pela rua, e até de casa em casa, como Arquimedes ao descobrir a lei do peso específico dos corpos: heureca! heureca! heureca! Podemos, de agora em diante, confiar inteiramente no futuro do Maranhão, que se nos configura, assim, sob a garantia, não da palavra de um governador, ou de um economista, ou de um sociólogo, mas pela declaração pública de um dos homens mais poderosos e mais responsáveis deste país, isto é, o Senhor Presidente da República, configura-se-nos, assim, dizíamos, capaz de despertar inveja, dentro em breve, a todos os estados do Norte e do Nordeste Brasileiro.

A SUDENE trabalhava em nosso favor. E nós não sabíamos. A SUDENE produzia, suando as bicas, em todo o vale do Pindaré, a fim de nos emancipar, economicamente. E nós a ignorávamos. A SUDENE realizava, bem ali, uma das maiores revoluções políticas deste século. E nós, até hoje, não tínhamos sequer ouvido o rumor da espantosa marcha de recuperação, que ela se impõe e em que se encontra empenhada para o bem geral do povo maranhense. Povo ingrato. Povo cego. Povo surdo.

As informações que nos têm dado quantos vão ao Pindaré e de lá voltam, muitos pelo contrário, eram as mais desanimadoras. Assegurava-se que os funcionários da SUDENE, ali, constituem um grupo muito bem pago de cavalheiros alegres, cuja única preocupação é despejarem rios de ouro aos pés das mulheres e estragarem chapas-brancas em tremendas noites de uísque e sexo.

Dizem-se mais. Dizem-se coisas impossíveis de se escrever em jornais, a menos que sua direção ou queria ver recusados nas casas de família ou nos mande somente nos bordéis e nos lupanares.

E, convém sublinhar, os que nos trazem tais fatos ao conhecimento são os cidadãos da mais alta responsabilidade, que, ante nosso espanto, nos desafiam a ir ao Pindaré, para vermos com os nossos próprios olhos os crimes que ali praticam, ostensivamente, com os dinheiros do Tesouro Nacional.

Pois bem. O desmentido está aqui, na Mensagem do Senhor Presidente da República, página 94. Querem os leitores ver? Não temam, não desmaiem, não se espantem:

“Na região maranhense” – diz S. Exa. – “na região maranhense, cerca de cem mil pessoas estão sendo assistidas por importantes planos de colonização”!

Esse plano é da SUDENE! Observem bem os que me lerem que S. Exa. não diz que serão assistidas, mas que “estão sendo assistidas”, cerca de CEM MIL pessoas.

Tenho ou não motivos para admirar o otimismo das mensagens oficiais e das bulas de medicamentos?

CEM MIL, CEM MIL, senhores!…

SABATINAS DOMINICAIS
AMARAL RAPÔSO
(Correio do Nordeste, 19/05/1963)

Em artigo que assinei, em nossa edição de Quarta-feira última, sob o título O MARANHÃO NA MENSAGEM PRESIDENCIAL, escrevi: “Diz-se mais. Dizem-se coisas impossíveis…”.

O revisor da matéria, amavelmente, corrigiu-me e publicou: “Dizem-se mais!” que fazes? Aliás sobre esse angustioso problema de revisão , praticamente insolúvel nesta capital, observem o seguinte: faz hoje um ano que vim para esta redação. Aqui, durante esses doze meses, já escrevi, sem incluir, na conta, ligeiros comentários, cerca de quatrocentos editoriais.

Pois bem, apesar de minha luta no sentido de que a revisão me não mutile os trabalhos, até esta data, jamais, consegui tal milagre.

Esta seção se traduz, neste número, somente a isso. Domingo que vem, novamente estarei aqui, pois ainda não acabei de ler a MENSAGEM do Senhor Governador Newton Belo, a respeito de cuja linguagem teremos assunto de sobra, pois, apesar dos pesares, nunca supus que a gramática e o estilo oficiais fossem capazes de chegar a tamanhos excessos de bobagens…

Tenho ainda, em mãos, o MANUAL DE LITERATURA do Professor Clodomir Caldas, que também será objeto das próximas SABATINAS e que, embora pareça mentira, não está, sob o aspecto em referência, muito melhor que a MENSAGEM!

Por hoje, “stop”, como dizem os cronistas sociais.

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