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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

JORNALISTAS MARANHENSES - PARTE 1

Nascimento Morais


Podemos dizer que foi a primeira grande bandeira do jornalismo combativo, no Maranhão do século XX.

Professor catedrático do Liceu Maranhense, foram seus alunos inúmeras figuras que atuaram e atuam no cenário político e jornalístico de nosso Estado, como José Sarney, Ferreira Gullar e Lago Burnett.

Nascimento Morais destacou-se, principalmente, pelo jornalismo polêmico e político, tendo uma concepção originalíssima sobre seus próprios posicionamentos e suas atitudes, quando confidenciou ao próprio filho, Nascimento Morais Filho, “Nós (ele e os que combatia) somos adversários, mas não inimigos.” E o mestre Nascimento Morais tinha uma estratégia eufemística infalível: quando tinha que criticar um Governador, não se dirigia a ele nunca, antes o atacava pela tangente, atacando e culpando alguém mais influente de seu secretariado.

Escritor, poeta, cronista, romancista e ensaísta, são da sua autoria os livros Neurose do Melo (ensaios), Vencidos e Degenerados (romance), dentre outros. Mas foi no jornalismo que teve o seu brilhantismo, em sua época. Destacam-se artigos como O Grande Polemista e O Rei das Multidões.

Nauro Machado reuniu substancial parte de sua obra jornalística, no livro 100 Artigos de Nascimento Morais. Sua biografia foi feita por Elina Campos, professora do Colégio Nascimento Morais.

Nascimento Morais nasceu em São Luís, no dia 19 de março de 1882. Em 1958, o professor Mário Meireles registrou sobre ele na Antologia da Academia Maranhense de Letras, “...jornalista vigoroso, de pena flamejante, mestre Nascimento é uma das últimas glórias do Maranhão do passado. Resistiu impávido ao tempo e, quase octogenário, ainda era equilibrado em seus conceitos, de estilo fluente, como bem demonstram as crônicas que até bem pouco escrevia para O Globo, sob o pseudônimo de Braz Sereno.” 

Ter ocupado, na Academia Maranhense de Letras, a cadeira patroneada por João Lisboa, foi o melhor tributo que lhe prestaram. Nascimento Morais faleceu em São Luís, a 22 de fevereiro de 1958.

O grande polemista
(Nascimento Morais - Tribuna da Imprensa, 25/12/1929)

Li algures que Jesus saiu da escola dos iniciados, maravilha polemática do passado oriental, armado de uma ciência invencível, para o grande cometimento que o imortalizou. Soterrando uma Civilização, apagando na Terra o prestígio dos deuses, dos semideuses, que povoaram o Céu e para onde nunca mais subiram, ele se revelou, sem dúvida, profundo sabedor de coisas profundas que ainda hoje não são do domínio dos mais elevados expoentes, dos mais cultos povos do mundo, inacessíveis conhecimentos que as academias dos eruditos e os conciliábulos dos sábios até agora não conseguiram desvendar. E, se alguns, que se ciliciam intelectualmente tem, por vezes, ao fim de tenacíssimo labor espiritual e insubjugável concentração, procurando explicar os mistérios dessa inatingível ciência que lhe ensinaram os inesgotáveis mestre daquela escola, mumificada em vida, por uma férrea disciplina mental, nenhum deles conseguia praticá-la, nem tampouco ensaiá-la!

Pelo que, Jesus deve ser considerado pelas demonstrações que deixou de seu extraordinário merecimento, de sua prodigiosa superioridade, iluminado super-homem, individualidade marcante no poder da vontade, exemplar perfil de grandeza moral de uma energia, que conseguiu o máximo de sua força expansiva a um elevado potencial de sua vitalização criadora.

E por tudo quanto fez, e por tudo quanto ensinou, não é demais, seja hoje para todos os efeitos, rebrilhante e incomparável figura esotérica, sugestivo perfil de mago, envolto num esplendoroso halo de solenidades superespirituais – Deus que se fez homem, homem que se fez Deus!

Lendária e tradicional figura que os séculos admiram e respeitam, transubstanciação da matéria, Espiritualidade do Amor, Asa Branca da Paz, pairando sobre os tumultos da Vida, Jesus atravessará todas as Filosofias, todas as Dúvidas, todas as Objeções, todos os vendavais da Crítica, todas as selvas cerradas da Incredulidade e todos os infernais Abismos dos que, em todos os tempos, se desesperam impotentes, em desvendar os inacessíveis Segredos, os sombrios mistérios do Ser e do não Ser!

Mas eu que, quanto mais te leio, mais te sinto e menos te compreendo, mais te admiro e menos te conheço, mais te sigo e menos te obedeço, mais te pertenço e menos te encontro, eu, que para te ver, do vale da minha humildade, abstraio-me, concentrando-me, de Tua Grandeza Divina, fecho os olhos na tua Majestade que me confunde e me perturba, que me desmentaliza e ao mesmo tempo me multiplica pela minha própria individualidade, levitando-a através da sua fraqueza, eu nesta hora em que uma vez mais me arrojo a procurar-te, Verdade que és, por entre as névoas espessas do Erro, deparo apenas o teu másculo e augusto perfil de polemista.

Pregador e apóstolo, moralista e pedagogo, tu foste, sendo o que és, o maior polemista de todos os tempos.

A polêmica deu-te os primeiros triunfos, quando, nos prelúdios de tua inteligência, discutiste com os venerados doutores, que delinqüiam, perpetrando a impostura científica, com que, então, esmagavam o Direito e a Justiça.

Ao depois, homem feito, simulacro da matéria, ou que quer que fosses, atravessaste com o teu verbo em riste os espinheiros do ódio e os lodaçais da inveja. Controversista exímio defrontaste-te com todas as perfídias do teu tempo, erigidas pela falsa fé em práticas oficiais, costumes e usos de uma sociedade coberta de ignomínias e torpezas com que a lei vilipendiava as classes. A teu encontro vinham os casos, e de improviso, com a destreza própria dos articulistas flexíveis, possuidores de uma dialética exemplar, de uma lógica irrechaçavel, levantadas rápido as formidáveis teses com que destruístes uma moral envelhecida e elaboraste outra que de formosa que era, espantou os guardas das instituições legais e fez que tremessem no estrado do seu poderio, os grandes da Terra.

Teu processo literário, a parábola, manejada por ti, foi arma possante, arma de combate com que extirpaste dos sentimentos dos povos os mais cruentos pensadores da impiedade, da selvageria e da desumanidade.

Teus argumentos vibrados como látegos doíam mais que lançadas, penetravam mais que punhais, esmagavam mais que catapultas.

Dentro de tuas parábolas vivem diálogos tremendos, interrogações sarcásticas, condicionais, irônicas, com que levantavas dos rochedos nus da brutalidade a alma rude do povo que te cercava.

Dentro de tuas parábolas vivem símbolos supremos e eternos com que compuseste o caráter do homem, e fulminaste todos os vícios, que ainda hoje o deprimem e enegrecem, quando te desprezam, insensatos, as grandes lições que esculpiste com o leal, sincero e integral devotamento à causa por que te bateste e por que te sacrificaste.

Foste, és e serás sempre o maior dos polemistas. Porque, sem que ninguém o saiba, reuniste todos os superiores atributos de que necessitavas para te comunicares, de planos com o povo: simplicidade de estilo, elegante, sóbrio, e conciso; discreto, colorido, penetrante psicologia de teus ouvintes e extraordinário fulgor de imaginação!

Poderão naufragar todos os teus milagres, combatidos pela vilania dos que te negam e te discutem; poderão apagar-se todos os aspectos de teu martírio; poderão rir de tua beatitude, mas não soçobrarão jamais as tuas áureas páginas de combatente impertérrito, pois que a tua palavra apostolizaste um povo e revolucionaste o mundo.

E não soçobrarão porque, destro preliador de idéias e sentimentos, não te preocupou a minoria despótica dos que pelo orgulho, pelo interesse, pela riqueza e pelo mundo bem sabias que, convencidos, não se deixaram vencer, mas a grande maioria dos pequenos, dos desinteressados, dos pobres e dos fracos, que constituem a multidão dos que sofrem os horrores da fome, os tormentos das perseguições, os acicates do desconforto, as afrontas da injustiça. Do alto do teu engenho acometeste uma sociedade e não uma política para que, vinculados as classes e os indivíduos pelos inatacáveis princípios do Amor, da Paz, e do Perdão, de seu seio saísse uma Política restaurada pela Moral, e capaz de salvaguardar os interesses da Sociedade.

Não te dirigiste, por isso, à prepotência porque sabias que ela rui por si mesma, quando as multidões pela sua grandeza espiritual não a levantam, não a alimentam e não a toleram.

Ficarás, por isso, na história da Civilização, como o protótipo dos sábios, dos filósofos, dos literatos, unidade polimorfa de uma mentalidade poderosa, tríplice aspecto de engenho sem igual. Reconhecerão em ti, todas as gerações, de adeptos e de adversários, o Verbo Eloqüente destruidor e criador, a serviço de uma Construção Social.

Ficarás como a expressão única dessa síntese. Exemplar Polemista porque depois de ti, começou a interminável ronda de sofistas, à guisa de Evangelizadores, mas hipócritas como o polvo! Porque defendendo a Verdade e a Virtude, se fazem da cor das conveniências do tempo, e fecham os olhos ao Crime, e tapam os ouvidos ao clamor dos desgraçados.

E como poderão, Mestre, os opulentos Cresus, defender a pobreza e a humildade?

Como poderão os tiranos e os déspotas desfraldar, como lábaro benedito, o sagrado pendão da liberdade?

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