A
indústria farmacêutica pode ser considerada como um setor especial da indústria
química, na qual muitos agentes naturais ou sintéticos podem ser usados para
produzir produtos terapeuticamente ativos para consumo humano. Ela abrange um
espectro dinâmico que tem se expandido lado a lado com a pesquisa médica,
tecnológica e demandas de atenção à saúde. A dimensão dos negócios
farmacêuticos vai desde conglomerados multinacionais para compostos individuais
até a farmácia de dispensação.
Dados
recentes sobre efeitos à saúde na indústria farmacêutica não são facilmente
disponíveis. Registros de problemas de saúde ocupacional datam dos anos 40,
relacionados aos perigos do manuseio de drogas de vegetais crus, solventes e
subprodutos de síntese orgânica.
Desde
então várias doenças tem sido associadas a fabricação de drogas, as quais
incluem alergias, desordens dos rins, supressão adrenocortical e síndrome
feminisation.
Além
disso, alguns agentes quimioterapeuticos produzidos para combater tumores
malignos podem acarretar o risco de neoplasia. As questões sobre se estas
exposições são associadas ao excesso de
mortalidade daqueles expostos ocupacionalmente permanecem sem resposta.
Dessa
forma o trabalho que se segue é uma análise teórica desses riscos, analisados a
luz de uma série de visitas a uma fábrica no Rio de Janeiro e que irão servir
para uma análise mais profunda a ser efetuada nos próximos dois anos.
A
produção de medicamentos no Brasil é realizada por mais de 500 laboratórios
públicos e privados, nacionais e multinacionais, que respondem pela fabricação
de 10 mil medicamentos. Destes, 15 são laboratórios públicos, que representam
somente cerca de 5% do valor de vendas do mercado, e geram aproximadamente 3500
empregos diretos, cerca de 400 são de natureza privada de capital nacional e
cerca de 100 de capital multinacional .
O
desenvolvimento de novos remédios possuem um alto custo de escala. O motivo é
que as pesquisas são caras, com chances de aproveitamento final de dez por
cento, porque muitos sucessos de laboratório se convertem em fracassos com
seres humanos.
O
custo de uma nova substância envolve milhões de dólares, dinheiro disponível
para poucos. O risco se agrava com a grande concorrência entre diversos
laboratórios, o que provoca o aparecimento de diversas substâncias atuantes em
um mesmo problema, o que reduz o tempo para se recuperar os altos
investimentos.
A
conseqüência é o domínio de patentes oriundas das grandes multinacionais e de
centros de pesquisa dos países do primeiro mundo, e a conseqüente dominação do
mercado mundial e brasileiro por essas empresas.
As
novas patentes tem como alvo os consumidores com poder aquisitivo compatíveis
com os altos custos, de modo que no Brasil há a fabricação de inúmeros
medicamentos ineficientes, perigosos e defeituosos pela falta de um maior
mercado, o que provoca riscos para os pacientes e para os trabalhadores
envolvidos na produção. A maioria da população portanto não tem acesso a
medicamentos,criando uma dependência da ajuda governamental.
A
fase de pesquisa e produção das moléculas têm como principais processos: a
síntese a partir de substâncias químicas, a cultura de microorganismos e a
extração de substâncias a partir de animais e vegetais.
Em
seguida temos o estudo da produção seriada do principio ativo em uma
fábricapiloto, caso seja obtido sucesso temos a produção em larga escala em uma
fábrica, tanto do principio ativo como do produto final. A produção de ambos em
uma mesma fábrica só está disponível para grandes empresas, concentrando-se as
de pequeno e médio porte em apenas uma das fases do processo.
A
fase de pesquisa e produção das moléculas têm como principais processos: a
síntese a partir de substâncias químicas, a cultura de microorganismos e a
extração de substâncias a partir de animais e vegetais.
Como
em toda a indústria há a necessidade de serviços de apoio como estufas e
refrigeração, com os seus problemas de microclima e ruído; serviços de
manutenção e almoxarifado( barulho, solventes, vapores..).Há alguns serviços de
impressão de rótulos( barulho, solventes) e de fotocópias (ozônio) . O uso cada
vez mais freqüente de terminais de computadores provocam os habituais riscos
ergonômicos.
A
fabricação em grandes quantidades do principio ativo envolve riscos de calor,
barulho,microclima e o uso de anti-sépticos.
O
perigo específico da atividade farmacêutica é a exposição ao principio ativo
nas diferentes fases do processo de fabricação. Quando as substâncias em forma
de pó, são secadas e acondicionadas em recipientes, ocorre a contaminação do
ar.
Os
riscos ocorrem em todas as fases de trabalho, desde o recebimento do principio
de uma fonte externa, com riscos maiores na fabricação de pílulas e
congêneres.O processo de fermentação envolve sucessivas transferências de
culturas de um recipiente para outro o que causa exposição a reagentes e solventes.
Devemos levar em conta o uso de um mesmo equipamento para diferentes remédios.
A
necessidade muitas vezes de ambientes esterilizados na fabricação de produtos
para a pele e mucosas, e ampolas causam exposição a radiação ultravioleta e a
formoaldeídos. A fase de empacotamento com o acondicionamento
específico(garrafas, blisters, tubos, pacotes etc.) em caixas que revelam as
propriedades toxicológicas e farmacológicas dos medicamentos acontecem em
máquinas de empacotamento. As máquinas apresentam riscos de barulho e
ferimentos nas mãos. Essa última fase também apresenta riscos alérgicos com a
exposição dos operários por longos períodos de tempo.
A
exposição aos agentes farmacológicos tem uma natureza imuno-alérgica e outra de
natureza toxicológica. Como principais fatores de riscos temos a produção de
hormônios e antibióticos. Os hormônios causam doenças do sistema endócrino ou
efeitos colaterais de tratamentos hormonais. A exposição de homens ao
histrogênio causam sintomas de ginecomastia monolateral ou bilateral. As
mulheres sofrem desordens menstruais, menorragia durante a menopausa e
hiperplasia do endométrio. A exposição de homens a progesterona podem causar
perda da libido, ejaculação precoce, dor nos testículos e espermogramas
modificados. Os sintomas regridem com o fim da exposição.
As
doenças relacionadas com antibióticos são observadas particularmente com a
penicilina, estreptomicina e tetraciclina. Sintomas característicos são a
hipovitaminose, modificação da flora intestinal e virulências. Leucopenia,
trombocitopenia e mudanças citogênicas ocorrem na exposição ao clorofênicol.
As
substâncias neuroativas são perigosas: trifluoperazina causa crises piramidais
, mydriasis são causadas por beladona ou atropina que penetram nos olhos,
torpor e sonolência são motivadas por cocaína e morfina. Há mudanças em funções
mentais em trabalhadores expostos a benzodiapina.
Manifestações
clínicas similares as provenientes de overdoses terapêuticas são observadas em
trabalhadores expostos a remédios cardíacos(diatolin) e vasodilatadores
coronárianos(nitroglicerina).
Os
principais efeitos à saúde em trabalhadores da indústria farmacêutica são
doenças alérgicas , quer respiratória ou de pele.Alguns de seus produtos finais
tem potencialmente sérios efeitos colaterais
e virtualmente todos são biologicamente ativos.
As
dermatites de contato são as mais freqüentemente relatadas. Devido a natureza
de pó solido de muitos produtos, poeiras residuais da fabricação podem ser
associada com patamar ambiental.
Muitas
vezes a distribuição do particulado ambiental pode se estender além da face,
pescoço e limbos superiores para envolver a parte protegida/coberta do corpo.
Um controle rígido dos níveis de poeiras em uma fábrica de penicilina reduziu o
número de empregados que desenvolveram alergias. Em outras situações empregados
que trabalhavam em locais 100m distantes da linha de produção
(clorodiazepoxide), tornaram-se sensíveis a uma quinazolina intermediária.
Na
fase de confecção, devido a necessidade de proteção do fármaco, de contato
externo, a exposição cutânea é assim reduzida e as lesões são modestas.
Os
quadros mais comuns são representados pela DESIDROSE, principalmente nas mãos e
dobras. O uso de EPI’s impermeáveis acentuam as manifestações. Assim estes
efeitos são sobrepostos às lesões do tipo traumático tais como abrasivos e
ferimentos, e podem provocar piodermites e micoses. Para alteração da
melanogenese, são possíveis acromia ou tatuagem em foco de contato, por
exemplo, durante a manipulação ( na produção e confecção) de antitumorais.
Estrias
cutâneas vermelhas podem ser a expressão de absorção de esteróides.
Fotodermatites
tóxicas e alérgicas podem aparecer também pelo uso de cremes protetores ( a
base de prometazina) e exposição a lâmpadas germicidas.Entre as afecções com
patogenese imune, além da já citada fotodermatite, os quadros mais freqüentes
são: a dermatite alérgica de contato, a urticária de contato e urticária e o
angiodema generalizado.
Estes
últimos aparecem ou por difusão de lesões de contato ou por inalação ou
ingestão do alergênico. As principais substâncias causadoras de dermatite de
contato estão os do grupo “para”( anestésicos locais, ácido para aminosalício,
procaína, sulfamidicos), os antibióticos (penicilina,
penicilina semisintética, cefalosporina, estreptomicina, tetraciclina,
rifampicina, neomicina,
entre outros), fenotiazínicos (clorpromazina, prometazina, etc.),
etilenodiamina ( componente, com a teofilina da aminifilina), entre outros.
A
patologia respiratória é, depois da dermatologia, o setor mais relevante e
atual da patologia “específica “ da indústria farmacêutica.
Ubirajara A.O. Mattos
CESTEH/FIOCRUZ,
UERJ/FEN/DESMA,
Alexandre Rocha do Nascimento
CESTEH/FIOCRUZ,
UFRJ
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