Total de visualizações de página

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

JORNALISTAS MARANHENSES - OTHELINO NOVA ALVES - O MÁRTIR DA IMPRENSA LIVRE

OTHELINO NOVA ALVES


Nasceu Othelino Nova Alves, no dia 15 de outubro de 1911, no bairro da Jordoa, em São Luís, MA. Jornalista profissional, estudioso de direito, foi advogado de todos os partidos trabalhistas que se organizaram no Brasil. Paradoxalmente, na ditadura Vargas, ele desapareceu certo dia e, só meses depois, foi encontrado, pele e osso, no porão de uma das celas da ditadura, onde foi acerbamente torturado.

Fundador e presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Luís, em que foi reempossado por sucessivas gestões, no campo sindical, foi uma das mais expressivas lideranças, especificamente na área de comunicação.

Foi dirigente da Federação Naciodonal dos Jornalistas e da Associação Brasileira de Imprensa.

Decorridos alguns anos de sua morte, em todos os congressos e convenções nacionais de jornalistas, prestam-lhe significativa homenagem, ressaltando o brilho de sua inteligência, a deliberada, obstinada e determinada coragem, ao engajar-se nas lutas mais memoráveis da categoria de que se fez porta-voz e, á qual dignificou, ao longo de sua profícua existência.

Poucos dias antes de ser assassinado, escreveu um artigo intitulado A Lei da Rolha, lei através da qual os militares de 1967 iriam cercear a liberdade de imprensa.

No ano subseqüente, veio o AI5 que restringiu, ou melhor, acabou com as liberdades pública e individual. E como, segundo Vicco, a História se repete, neste ano 2000, tramita, no Congresso Nacional, a chamada Lei da Mordaça, pior que o AI5.

Othelino, durante muitos anos, esteve ao lado de Neiva Moreira, em O Combate. Era advogado provisionado, tendo sido considerado por Colares Moreira a maior expressão de conhecimento do processo eleitoral, só encontrando paralelo em Clodomir Milet, que era médico.

Em homenagem a Othelino, foi instituído, através de Decreto Legislativo o prêmio “Othelino Nova Alves” de Jornalismo, de abrangência nacional, cuja finalidade é a defesa da manutenção do estado democrático de direito.

Após a sua morte, em 30/09/1967, no lugar em que foi barbaramente assassinado, na rua de Nazaré, erigiu-se um busto e o trecho foi batizado de Espaço da Liberdade Othelino Nova Alves, através de Lei municipal.

Dias após a sua morte, assaltaram a sede do Sindicato dos Jornalistas, na Rua Afonso Pena, para roubarem vários documentos, que comprometiam as elites dominantes. E acabaram roubando os originais do seu livro Minha Vida e Minha Obra, prefaciado por Nauro Machado.

Ao defender as liberdades e os oprimidos, sofreu inúmeras agressões, também fora do Estado do Maranhão, como no Ceará, Pará, Piauí e Amazonas, onde um ex-governador teria sido o autor intelectual do atentado. No Ceará, foi um senador da República. No Maranhão, as elites que não concordavam com as denúncias que fazia sobre a corrupção, com a pena desassombrada, no Jornal Pequeno, sua trincheira, ao lado do amigo Bogéa.

Othelino usou a Praça e os tribunais para defender os humildes e acusar os poderosos que, na calada da noite, usavam de maquinação e subversão, autoritarismo, arrogância, prepotência e intolerância, sob a capa da Justiça.

NA LIÇA..
NO PANTEON NÃO HÁ LUGAR PARA OS PARLAPATÕES!

Othelino Nova Alves
(Jornal Pequeno, 15/07/1967)

Estou seguramente informado de que certo grupo palaciano anda açoitando o cão com a vara pela Corregedoria Geral do Estado, com o objetivo de fazer movimentar ridículos, cavilosos e imaginários processos forjados contra mim, por figuras menosprezíveis, incapazes de me enfrentar nas lides jornalísticas e sem o trânsito livre e confortador que tenho, graças a Deus, perante a opinião pública da minha terra.

Saibam todos, protetores e protegidos que, quem faz absoluta questão de que andem os processos, e andem a jato, sou eu.

Etanto assim ocorre, que estou sempre nos Cartórios solicitando prosseguimento dos feitos, com a maior brevidade, pois, na verdade, na verdade eu vos digo, quanto mais depressa andarem tais processos, mais tranqüilos e mais segura será a prova fulminante, que farei, demonstrando a iniqüidade dos mesmos.

Não irei pedir favores a quem quer que seja. Não irei procrastinar uma só audiência. Não irei impedir o comparecimento de uma só testemunha. Não irei suar de artimanhas e sofismas com o objetivo de tumultuar o andamento dos feitos.

Contra mim nada existe, senão o temor dos carcomidos, dos calhordas, dos incapazes, dos falsários, dos pulhas, dos descategorizados e desqualificados, dos que têm vivido de enganar o povo.

Contra eles – todos eles – eu tenho provas esmagadoras, irrefutáveis, irretorquíveis, irrefragáveis, quer nos bojos de processos, quer em meu poder, uma delas de estarrecer a toda a população maranhense, provas que serão usadas legitimamente como legitimamente são praticados todos os meus atos.

Não irei pedir soluções políticas para os tais feitos, nem admito arranjos. Não desejo que nenhum deles seja julgado sem Relator, se for o caso, para haver designação “a posteriori” e, mesmo assim, ficar na berlinda o acórdão, de maneira a ser esquecido, e depois, publicado sem que as partes tenham conhecimento, já exaustas de esperar por um dever de dignidade judicante do magistrado a quem cabe a responsabilidade de sua lavratura.

Não irei pedir que fiquem os processos na geladeira... Não! Estou solicitando, de público e razo, o andamento de todas, observadas as diligências requeridas pela minha defesa e os meus depoimentos.

Assim, fala quem não teme. Assim procede quem tem a consciência tranqüila do dever cumprido, assim fala quem não teme, comparece perante os julgadores, porque, graças a Deus, arrima-se sempre, e invariavelmente, na verdade, a mais sublime de todas as Virtudes, a maior e mais poderosa de todas as Armas.

Volto, agora, a reafirmar que, no caso Buraqueira, agíramos na mais legítima defesa da nossa honra profissional, reagindo contra a injúria, calúnia e difamação e, ainda, refletindo a opinião pública.

E, ao ensejo deste novo pronunciamento, é dever salientar que temos os elementos probantes de nossas assertivas, pelo que estamos, todos nós do Jornal, tranqüilos e despreocupados, sem precisarmos de acomodações nem de arranjos; mesmo porque não usamos de tais expedientes.

Quem for podre, que se quebre! 

Oque devem saber tais interessados no andamento dos processos – sobreleva recordar– é que nós temos reptado, por muitas vezes, o prefeito Buraqueira a dizer como paga uma Representação na Guanabara, sem que tenha ele tido a coragem de dizer uma só palavra. É que, segundo a Lei de Responsabilidade, terá que responder pelas despesas não autorizadas. E à Câmara Municipal de São Luís cabe o dever cívico, moral, legislativo e fiscalizador de saber como é feito tal pagamento, como é mantida a citada Representação. Desta feita, fica o repto à Câmara.

Seja dito, afinal de uma vez por todas, a esses gaiatos de gravata, que eles não passarão à história, porque no Panteon não há lugar para os parlapatões.

Que encanguem os processos e venham, pois a nossa arma será sempre a de sempre: a Verdade!

Oque parece dever de honra para a magistratura maranhense, sem a menor dúvida, é o julgamento do célebre Crime da Base Aérea, cuja demora constitui uma permanente interrogação de parte do povo, de todas as camadas sociais, não sendo nada agradável o conceito feito, em muitas delas, pela conduta da Justiça em retardado, inexplicavelmente, esse julgamento, que é que tem que ser uma questão de honra. Não desejava mais focalizá-lo nesta Coluna, senão ao seu término, mas a impertinência de tais gaiatos força-me a este resumido e parcimonioso pronunciamento, nem parênteses que preferia não registrar.

De resto, registrem todos estas afirmativas: não arredaremos um só milímetro da posição assumida.

NA LICA
DIANTE DE UM DOCUMENTO QUE PASSARÁ À HISTÓRIA

Othelino Nova Alves
(Jornal Pequeno, 08/10/1966)

Permitam-me os meus queridos leitores, pelos quais tenho o mais profundo respeito, que transcreva linhas a seguir, um documento que passará à história e servirá de patrimônio aos meus descendentes.

Otrabalho, fruto da inteligência e da cultura de Nauro Machado, destina-se ao prefácio de um folheto em torno do chamado Crime da Base Aérea, tendo o consagrado escritor, poeta maranhense, se inspirado no pronunciamento do Dr. Esmaragdo de Sousa e Silva, Procurador Geral do Estado.

Eis, pois, na íntegra, a matéria que publico com os meus agradecimentos ao ilustre rebento de uma das famílias mais honradas da nossa terra.

A Consciência de um Povo
Nauro Machado

Sabemos os motivos por que o Maranhão, escamoteado em vinte e poucos anos de sua predestinação histórica, não se deixou capitular ante a investida de corruptas mentes, cevadas pela prepotência dos iníquos e adormecidos no engodo de um efêmero poder : pessoas houve que tiveram o doloroso encargo da resistência, pessoas cuja luta pôde ressarcir o inominável crime da omissão de quase toda uma coletividade.

Pouquíssimos foram, realmente, os homens que resistiram aos processos reveladores de deterioração moral, e muitíssimos aqueles que, por comodismo ou covardia, conivência ou despreparo, resolveram silenciar ante o que viam, na cegueira do espírito e na castração do próprio respeito. 

Se, desde os tempos de O Combate, Othelino Nova Alves era o jornalista temido e veemente, leal e vigoroso, muito mais passou a sê-lo após o atentado brutal de que foi vítima, no ano de 1960. Homem de caráter forte, pôde Othelino consubstancializar em sua personalidade a consciência cívica de nossa gente, a capacidade de resistir de todo um povo. Conhecendo-se-lhe a luta, sabemos a causa por que o Maranhão não poderia, como não pôde, capitular. 

Desnecessário se nos torna, neste preâmbulo, recapitular os lances do chamado Crime da Base Aérea, as degradantes cenas do seqüestro e conseqüente seviciamento a que foi submetido o jornalista Othelino, num ato medieval comandado diretamente pelo então poderoso Chefe de Polícia daquela época. O necessário é que se tome conhecimento, através do Pronunciamento do Ministério Público, ora dado à lume, do que significava a justiça em terras maranhenses, de como os homens encarregados de defendê-la e praticá-la, tripudiavam cinicamente sobre os postulados jurídicos, transformando-os em uma cloaca de acumpliciamento governamental.

Oleitor das páginas a seguir encontrará fatos realmente de estarrecer, como bem acentuou o Exmo. Sr. Dr. Esmaragdo de Sousa e Silva, Procurador Geral do Estado. Que o leitor consciencioso sobre eles medite.

Este não é um processo de origem kafkaniana, em que pese a simbologia de um oculto pesadelo e a barbárie tecida pelas mãos do terror. Os fatos são por todos conhecidos e a culpabilidade dos indiciados mais do que evidente. O crime foi perpetrado de fato e as chagas dele resultantes ainda sangram:

Não nos arvoremos em defensores da lei de Talião nem de inexorabilidade da vindita. Queremos, isto sim, que, com a severa punição dos culpados, haja, por quem de direito, o respaldo dos postulados mais fundos da decência e dignidade humana.

Othelino Nova Alves, com o exemplo da sua coragem e a pertinência da sua honra, é bem o testemunho da nossa esperança e o escudo da nossa fé. A certeza que temos na punição dos culpados é a mesma que depositamos no altar da justiça e aos pés da verdade. Pois, a Justiça é como o ventre da terra na fecundação da aurora: abrindo-se em luz, sua raiz cresce pura para os homens que a querem e respiram, límpida, como a verdade, e não para aqueles outros que a querem e respiram imundas, já que chafurdam e vivem na lama, como porcos.

Que Deus ilumine os magistrados desta Terra.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

JORNALISTAS MARANHENSES - PARTE 1

Nascimento Morais


Podemos dizer que foi a primeira grande bandeira do jornalismo combativo, no Maranhão do século XX.

Professor catedrático do Liceu Maranhense, foram seus alunos inúmeras figuras que atuaram e atuam no cenário político e jornalístico de nosso Estado, como José Sarney, Ferreira Gullar e Lago Burnett.

Nascimento Morais destacou-se, principalmente, pelo jornalismo polêmico e político, tendo uma concepção originalíssima sobre seus próprios posicionamentos e suas atitudes, quando confidenciou ao próprio filho, Nascimento Morais Filho, “Nós (ele e os que combatia) somos adversários, mas não inimigos.” E o mestre Nascimento Morais tinha uma estratégia eufemística infalível: quando tinha que criticar um Governador, não se dirigia a ele nunca, antes o atacava pela tangente, atacando e culpando alguém mais influente de seu secretariado.

Escritor, poeta, cronista, romancista e ensaísta, são da sua autoria os livros Neurose do Melo (ensaios), Vencidos e Degenerados (romance), dentre outros. Mas foi no jornalismo que teve o seu brilhantismo, em sua época. Destacam-se artigos como O Grande Polemista e O Rei das Multidões.

Nauro Machado reuniu substancial parte de sua obra jornalística, no livro 100 Artigos de Nascimento Morais. Sua biografia foi feita por Elina Campos, professora do Colégio Nascimento Morais.

Nascimento Morais nasceu em São Luís, no dia 19 de março de 1882. Em 1958, o professor Mário Meireles registrou sobre ele na Antologia da Academia Maranhense de Letras, “...jornalista vigoroso, de pena flamejante, mestre Nascimento é uma das últimas glórias do Maranhão do passado. Resistiu impávido ao tempo e, quase octogenário, ainda era equilibrado em seus conceitos, de estilo fluente, como bem demonstram as crônicas que até bem pouco escrevia para O Globo, sob o pseudônimo de Braz Sereno.” 

Ter ocupado, na Academia Maranhense de Letras, a cadeira patroneada por João Lisboa, foi o melhor tributo que lhe prestaram. Nascimento Morais faleceu em São Luís, a 22 de fevereiro de 1958.

O grande polemista
(Nascimento Morais - Tribuna da Imprensa, 25/12/1929)

Li algures que Jesus saiu da escola dos iniciados, maravilha polemática do passado oriental, armado de uma ciência invencível, para o grande cometimento que o imortalizou. Soterrando uma Civilização, apagando na Terra o prestígio dos deuses, dos semideuses, que povoaram o Céu e para onde nunca mais subiram, ele se revelou, sem dúvida, profundo sabedor de coisas profundas que ainda hoje não são do domínio dos mais elevados expoentes, dos mais cultos povos do mundo, inacessíveis conhecimentos que as academias dos eruditos e os conciliábulos dos sábios até agora não conseguiram desvendar. E, se alguns, que se ciliciam intelectualmente tem, por vezes, ao fim de tenacíssimo labor espiritual e insubjugável concentração, procurando explicar os mistérios dessa inatingível ciência que lhe ensinaram os inesgotáveis mestre daquela escola, mumificada em vida, por uma férrea disciplina mental, nenhum deles conseguia praticá-la, nem tampouco ensaiá-la!

Pelo que, Jesus deve ser considerado pelas demonstrações que deixou de seu extraordinário merecimento, de sua prodigiosa superioridade, iluminado super-homem, individualidade marcante no poder da vontade, exemplar perfil de grandeza moral de uma energia, que conseguiu o máximo de sua força expansiva a um elevado potencial de sua vitalização criadora.

E por tudo quanto fez, e por tudo quanto ensinou, não é demais, seja hoje para todos os efeitos, rebrilhante e incomparável figura esotérica, sugestivo perfil de mago, envolto num esplendoroso halo de solenidades superespirituais – Deus que se fez homem, homem que se fez Deus!

Lendária e tradicional figura que os séculos admiram e respeitam, transubstanciação da matéria, Espiritualidade do Amor, Asa Branca da Paz, pairando sobre os tumultos da Vida, Jesus atravessará todas as Filosofias, todas as Dúvidas, todas as Objeções, todos os vendavais da Crítica, todas as selvas cerradas da Incredulidade e todos os infernais Abismos dos que, em todos os tempos, se desesperam impotentes, em desvendar os inacessíveis Segredos, os sombrios mistérios do Ser e do não Ser!

Mas eu que, quanto mais te leio, mais te sinto e menos te compreendo, mais te admiro e menos te conheço, mais te sigo e menos te obedeço, mais te pertenço e menos te encontro, eu, que para te ver, do vale da minha humildade, abstraio-me, concentrando-me, de Tua Grandeza Divina, fecho os olhos na tua Majestade que me confunde e me perturba, que me desmentaliza e ao mesmo tempo me multiplica pela minha própria individualidade, levitando-a através da sua fraqueza, eu nesta hora em que uma vez mais me arrojo a procurar-te, Verdade que és, por entre as névoas espessas do Erro, deparo apenas o teu másculo e augusto perfil de polemista.

Pregador e apóstolo, moralista e pedagogo, tu foste, sendo o que és, o maior polemista de todos os tempos.

A polêmica deu-te os primeiros triunfos, quando, nos prelúdios de tua inteligência, discutiste com os venerados doutores, que delinqüiam, perpetrando a impostura científica, com que, então, esmagavam o Direito e a Justiça.

Ao depois, homem feito, simulacro da matéria, ou que quer que fosses, atravessaste com o teu verbo em riste os espinheiros do ódio e os lodaçais da inveja. Controversista exímio defrontaste-te com todas as perfídias do teu tempo, erigidas pela falsa fé em práticas oficiais, costumes e usos de uma sociedade coberta de ignomínias e torpezas com que a lei vilipendiava as classes. A teu encontro vinham os casos, e de improviso, com a destreza própria dos articulistas flexíveis, possuidores de uma dialética exemplar, de uma lógica irrechaçavel, levantadas rápido as formidáveis teses com que destruístes uma moral envelhecida e elaboraste outra que de formosa que era, espantou os guardas das instituições legais e fez que tremessem no estrado do seu poderio, os grandes da Terra.

Teu processo literário, a parábola, manejada por ti, foi arma possante, arma de combate com que extirpaste dos sentimentos dos povos os mais cruentos pensadores da impiedade, da selvageria e da desumanidade.

Teus argumentos vibrados como látegos doíam mais que lançadas, penetravam mais que punhais, esmagavam mais que catapultas.

Dentro de tuas parábolas vivem diálogos tremendos, interrogações sarcásticas, condicionais, irônicas, com que levantavas dos rochedos nus da brutalidade a alma rude do povo que te cercava.

Dentro de tuas parábolas vivem símbolos supremos e eternos com que compuseste o caráter do homem, e fulminaste todos os vícios, que ainda hoje o deprimem e enegrecem, quando te desprezam, insensatos, as grandes lições que esculpiste com o leal, sincero e integral devotamento à causa por que te bateste e por que te sacrificaste.

Foste, és e serás sempre o maior dos polemistas. Porque, sem que ninguém o saiba, reuniste todos os superiores atributos de que necessitavas para te comunicares, de planos com o povo: simplicidade de estilo, elegante, sóbrio, e conciso; discreto, colorido, penetrante psicologia de teus ouvintes e extraordinário fulgor de imaginação!

Poderão naufragar todos os teus milagres, combatidos pela vilania dos que te negam e te discutem; poderão apagar-se todos os aspectos de teu martírio; poderão rir de tua beatitude, mas não soçobrarão jamais as tuas áureas páginas de combatente impertérrito, pois que a tua palavra apostolizaste um povo e revolucionaste o mundo.

E não soçobrarão porque, destro preliador de idéias e sentimentos, não te preocupou a minoria despótica dos que pelo orgulho, pelo interesse, pela riqueza e pelo mundo bem sabias que, convencidos, não se deixaram vencer, mas a grande maioria dos pequenos, dos desinteressados, dos pobres e dos fracos, que constituem a multidão dos que sofrem os horrores da fome, os tormentos das perseguições, os acicates do desconforto, as afrontas da injustiça. Do alto do teu engenho acometeste uma sociedade e não uma política para que, vinculados as classes e os indivíduos pelos inatacáveis princípios do Amor, da Paz, e do Perdão, de seu seio saísse uma Política restaurada pela Moral, e capaz de salvaguardar os interesses da Sociedade.

Não te dirigiste, por isso, à prepotência porque sabias que ela rui por si mesma, quando as multidões pela sua grandeza espiritual não a levantam, não a alimentam e não a toleram.

Ficarás, por isso, na história da Civilização, como o protótipo dos sábios, dos filósofos, dos literatos, unidade polimorfa de uma mentalidade poderosa, tríplice aspecto de engenho sem igual. Reconhecerão em ti, todas as gerações, de adeptos e de adversários, o Verbo Eloqüente destruidor e criador, a serviço de uma Construção Social.

Ficarás como a expressão única dessa síntese. Exemplar Polemista porque depois de ti, começou a interminável ronda de sofistas, à guisa de Evangelizadores, mas hipócritas como o polvo! Porque defendendo a Verdade e a Virtude, se fazem da cor das conveniências do tempo, e fecham os olhos ao Crime, e tapam os ouvidos ao clamor dos desgraçados.

E como poderão, Mestre, os opulentos Cresus, defender a pobreza e a humildade?

Como poderão os tiranos e os déspotas desfraldar, como lábaro benedito, o sagrado pendão da liberdade?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O MARANHÃO


O Maranhão, pelas próprias circunstâncias históricas de sua fundação, pelos franceses, e colonização, pelos portugueses, foi assinalado para uma grande destinação, a de tornar-se berço de uma elite cultural de privilegiados monstros sagrados, estuários de grandes civilizações helênicas, a Grega e a Romana, possibilitando a construção, aqui e no século XIX, de uma Mesopotâmia cultural ou de uma Alexandria/Atenas, dentro do Brasil, como uma civilização à parte.
É sabido que, não raro, as ilhas-cidades são satélites, concentradoras de saberes, daí tornarem-se os locais propícios para o nascimento dos grandes mitos da Literatura e do Jornalismo. Assim foi em Ítaca e Colofon, ilhas que deram a atmosfera propícia para um Melesígenes ou Homero, a primeira grande expressão da escritura universal.

A Irlanda propiciaria um James Joyce, notável jornalista e escritor. São Luís, a ilha em que nasceram Odorico Mendes, Nascimento Morais e Erasmo Dias e onde houve o descortino vertiginoso da obra jornalística de João Francisco Lisboa.
A matriz desse jornalismo culto, e ao mesmo tempo polêmico, com base no ironicamente contraditório que permite a problematização (e não negação) da História, é o saber de inúmeros saberes.
Qual o mistério que envolve uma ilha-cidade, São Luís, que a tornou tão expressiva, ao ponto de titularem-na de Atenas Brasileira, mais pelo grande Jornalismo que pela Literatura, nos meados do século XIX? O helenismo, a helenização ou essa capacidade privilegiada e paradoxal à qual têm acesso certos escritores e jornalistas insulados ou antilhanos, de superarem o abismo dos oceanos com a centelha do processo alquímico, através da capacidade de dar, aos fatos e notícias mais simples, o sentido da universalidade.

Desse helenismo foram plasmados Odorico Mendes e João Lisboa, no século XIX, para não citar Sotero dos Reis. E essa tocha seria passada aos mestres Nascimento Morais e Erasmo Dias. E estes deixaram descendentes, alguns já passados ao andar de cima e outros ainda imprimindo pegadas nos textos. Nominá-los, excluiria o sabor da decifração aos estudantes. Descendentes e sobreviventes são o influxo da herança heráldica da cultura greco-romana, o que lhes possibilita sobreviverem para além da época em que viveram, os mortos a viverem nos textos.
A herança transmitida por Odorico Mendes tem por base os estudos na Universidade de Coimbra, mas o grande jornalismo polêmico criado por João Lisboa deve-se, em grande parte, à eloqüência retórica dos Sermões do padre Antônio Vieira.

Dessa cultura helenística que se distingue por dois traços marcantes, o conhecimento humanístico e o espírito combativo, polêmico que permitem o exercício da audácia, do arrojo, do desprendimento, da coragem, do desassombro, da inflexibilidade de caráter, nasceu a grande tribuna da imprensa maranhense que não usou e nem usa dois pesos e duas medidas. Daí por que, para celebrar o 49º aniversário de criação e fundação do Jornal Pequeno, pelo saudoso jornalista Ribamar Bogéa, a direção deste Órgão de Imprensa, através de Hilda, Lourival, Josilda, Ribamar, Luiz Antonio, Luiz Eduardo e Gutemberg, viúva e filhos, decidiu marcar a data com um Suplemento, que fosse ao mesmo tempo uma homenagem póstuma aos jornalistas do século XX, que possibilitaram ao povo tornar-se sujeito de seu próprio destino, e aos jornais combativos do Maranhão.

Após discussões e consultas, idas e vindas, houve um consenso na escolha definitiva dos jornalistas, dentre tantos, que resultou nos seguintes nomes: Nascimento Morais, Erasmo Dias, Amaral Raposo, Cunha Santos, Ribamar Bogéa, Bernardo Almeida, Eyder Paes, Bandeira Tribuzi, Othelino Nova Alves, Nonnato Masson, Lago Burnett e Carlos Cunha.

Neles, por eles ou através deles, o Jornal Pequeno e a família Bogéa homenageiam todos os demais jornalistas do século passado e deste, lembrados por quantos, lendo este Suplemento, exclamarem: “Estão faltando Fulano, Beltrano e Sicrano. Eles também são sobreviventes, pois, também conseguiram viver além do seu tempo, se projetando para o futuro.” Certo.
Temos a humildade de reconhecer que este trabalho é um opúsculo, que não tem a veleidade ou pretensão, senão de ser uma partícula do fio da meada, pois seria ignorância sequer cogitar ser este um trabalho completo, já que é, na área jornalística, apenas um furo, portanto um folheto pioneiro.
Temos conhecimento da grande pesquisa que se vem fazendo sobre a obra jornalística do Maranhão e, neste decênio, já foram publicadas algumas peças importantes desse imenso quebra-cabeças, cuja decifração final resultará do resgate nos arquivos e microfilmagens da Biblioteca Pública Benedito Leite, Arquivo Público e Acervos particulares de cada Jornal, dos muitos que existiram e existem no Maranhão.
Dentre os grandes pesquisadores do gênero, se inscrevem os intelectuais, escritores e/ou jornalistas e/ou professores Nauro Machado, Luís Mello, Jomar Moraes, Sebastião Jorge, Benedito Buzar, Nascimento Morais e Jorge Nascimento. A lista é expressiva.
Nauro Machado é autor das obras de pesquisa Erasmo Dias e Noites e 100 Artigos de Nascimento Morais. Recentemente, o professor, jornalista e escritor Sebastião Jorge fez editar mais um de seus livros sobre o jornalismo, Política Movida a paixão, cujo subtítulo é O Jornalismo polêmico de Odorico Mendes. O jornalista e escritor Benedito Buzar também lançou O Vitorinismo no Maranhão. Nascimento Morais Filho e Luiz Mello reúnem as obras completas do mestre Nascimento Morais.
Lembremo-nos com as sábias palavras de Nascimento Morais Filho. “Bogéa revolucionou o jornalismo no Maranhão. Foi o autêntico representante do grande jornalismo no Maranhão do século XX. OJornal Pequeno é um jornal das massas populares. Veio para contrariar o jornalismo da classe média alta, impondo-se contra os jornais das conveniências; popular e em defesa dos menos favorecidos. É uma tribuna livre.” 
Sim, até para dar leveza aos problemas do dia-a-dia, Bogéa criou as colunas satíricas e humorísticas de grande repercussão em todas as camadas sociais. A exemplo tivemos: Aula do Professor Borracheira, Língua de Trapo, Espírito de Porco e No cafezinho.

O espírito de O Argos da Lei, criado em 1925, por Odorico Mendes, não morreu. Sempre haverá os Garcias de Abranches e novos “censores maranhenses” para gerar polêmica. Lendo os jornalistas deste ensaio, temos a certeza disto.
Alberico Carneiro
São Luís, 25/05/2000

sábado, 25 de fevereiro de 2012

CURSOS


Estou ministrando aulas para cursos técnicos, cursos de qualificação e Normas Compulsórias.


1 - Cursos técnicos: Eletricidade; Analise de circuito; Comando e controle.


2 - Cursos de Qualificação: Caldeiras e vasos de pressão; Válvulas de Processo; Instrumentação; Vapor; Eletricista Residencial, Predial, industrial e Áreas eletricamente Classificada.


3 - Compulsórios: NR 10; SEP; NR 13 e NR 33


OS CURSOS DE QUALIFICAÇÃO E COMPULSÓRIOS, PODEM SER "IN COMPANY", COM EMISSÃO DE CERTIFICADO, AMPARADO POR "ART" DO CREA - RJ. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E A SAÚDE DO TRABALHADOR - FINAL


Na maioria dos casos se reconhece como patogenese imunológica, que se exprime nas formas de oculorinite e sobretudo asma bronquial alérgica. Entre as três formas a patogênese não imunológica, devido aos efeitos adversos dos fármacos prevísiveis e dose-dependentes e correlatas, a ação farmacológica devido a sua peculiaridade são destacados a tosse e a broncoconstrição da capsaicina, princípio ativo das frutas das várias espécies de capsicum.
Alguns grupos de alergênicos na indústria farmacêutica são os aminoglicosideos, intermediários de agentes antitumores, etilenodiamina, formaldeído, derivados do imidazol, grupos para-amino ( ácido p-aminobenzóico, ácido p- aminosalícilico, procaína, sulfonamidas), penicilinas, fenotiazinas (clorpromazina, prometiazina), piperazina, sais de amônio quaternário.Entre as substâncias químicas específicas que causam alergia de contato na indústria farmacêutica estão propanolol, cloroquina, alprenolol, tiamina, nicergolina, anaftil acetronitrila, hidrazina, albendazol, entre outras.
A asma ocupacional devido a produtos farmacêuticos em pó entre farmacêuticos, enfermeiras, médicos e trabalhadores da indústria de drogas tem sido registrada frequentemente. Vários agentes são responsáveis , entre eles a hidralazina, uma droga antihipertensiva, mesmo em níveis abaixo dos valores de TLV-STEL. Dados de pneumonite hipersensitividade e hipereatividade vias aéreas devido a repetidas exposições a vários  agentes, entre estes a penicilina.
Um dos aspectos mais problemáticos no quadro dos efeitos adversos do trabalho na indústria farmacêutica é aquele que diz respeito aos riscos reprodutivos. Um estudo em mulheres de um laboratório farmacêutico sueco apresentou quatro casos de morte perinatal, dois de má formação e seis abortos. Uma taxa de aborto espontâneo de 10,9% foi encontrada entre mulheres trabalhadoras na indústria farmacêutica.
A associação de dor lombar com fatores mecânicos foi estudada em trabalhadores da indústria farmacêutica. Foi encontrado que as principais tarefas que podem provocar dor lombar estão no setor de embalagem e em trabalhadores do laboratório e administrativos que se mantém sentados por longo períodos. Sendo o risco significantemente maior no setor de embalagem, resultante provavelmente devido a postura sentada requerida pela atividade e as cadeiras não serem ergonomicamente projetas.
O risco de hepatotoxicidade na indústria farmacêutica é encontrado devido a   inúmeras substâncias químicas tais como eritromicina , prevan e clorofórmio.

4) Medidas preventivas

A prevenção requer um conhecimento da farmacologia e toxicologia, ou seja dos efeitos da absorção dos remédios pelo organismo e dos meios de ocorrência. Na indústria os riscos se concentram nas vias respiratórias e não na via oral ou parenteral. A pele também pode ser considerada uma rota de possíveis danos a saúde pelo contato prolongado com o principio ativo. A dificuldade provem da falta de pesquisas acuradas a respeito da  intensidade de intoxicações por dosagem externa, o que impossibilita conclusões a respeito se um ambiente tem ou não uma segurança adequada. A falta de dados mais avançados implica na necessidade de serem obtidos os níveis os mais baixos possíveis para reduzir eventuais riscos.
Há a dificuldade em saber os efeitos da exposição a diferentes substâncias (remédios,solventes, medicamentos do próprio uso dos funcionários..). Os exames admissionais podem determinar problemas congênitos ou adquiridos que geram a hipersensibilidade a substâncias farmacêuticas. Os exames periódicos podem detectar mudanças do organismo, permitindo uma análise crítica de grupos de referencia para se identificar riscos presentes no ambiente de trabalho. Os testes devem ser padronizados, principalmente urina e sangue, para os casos de exposição e absorção de hormônios e antibióticos.
Vale lembrar que algumas substancias são cancerígenas(antimitóticos), forçando o uso de técnicas apropriadas e EPI’S adequadas. Há especial necessidade de exaustores nas   áreas de trabalho para reduzir a concentração de poeiras e vapores. Nos ambientes esterilizados há a necessidade não só de EPI’s mas de restrita conversação, para evitar a  contaminação do ar. As máquinas precisam de proteção acústica e contra acidentes mecânicos, através de um projeto apropriado.A rotação de função reduziria a monotonia e a exposição a ruído.

5) O caso estudado

5.1) Caracterização

A indústria visitada tem uma estrutura que compreende duas grandes áreas fins: 1. produção de fármacos e medicamentos; 2. pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Para o ano de 1996, a meta de produção (período de seis meses) foi de cerca de 17 milhões de reais, para 29 formulações , contando com cerca de 250 funcionários, do quadro e terceirizados.
Número de turnos: 2
Número total de empregados(Jan/96): 193 (quadro efetivo - 53 e terceirizados - 140)
Produtos : medicamentos sólidos ( comprimidos revestidos e encapsulados) e semi-sólidos (pomadas).
Diversos serviços da empresa são terceirizados como: produção, manutenção de máquinas e motores, serviços de limpeza, bombeiro, eletricista e outros dada a dificuldade  de autorização para admissão de novos funcionários.
A indústria hoje é composta pelos setores de produção, pesquisa, controle de qualidade, CPD, manutenção, almoxarifado e administração. Este relatório apresenta uma avaliação das condições de trabalho dos setores de produção e almoxarifado.
Os resultados de um estudo anteriormente realizado indicam que para os três anos de produção analisados, não existe uma seqüência definida na programação da produção.
Tanto as quantidades produzidas de cada produto, como a distribuição da produção de seus lotes nos meses de cada ano variaram. Este é um fato que dificulta a elaboração de um  estudo a respeito da produção da fábrica, visto que com uma programação da produção bem esquematizada, poder-se-ia levantar quais as variáveis que a afetam e o melhor modo de intervenção, sem contar que poderia-se fazer um histórico dos produtos fabricados e suas freqüências, bem como eles se intercalam a fim de descobrir o que isto pode acarretar à saúde dos trabalhadores.
Através da análise qualitativa do ambiente de trabalho, foram identificados como principais riscos os solventes, material particulado e ruído.

5.2) Problemas levantados no processo de trabalho

a)Sobrecarga física :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas; Transporte das matérias - primas para o setor de Produção; Granulação úmida; Secagem; Granulação seca e o Revestimento/Drageamento

b)Riscos de acidentes: esmagamento e lesão nas mãos e pés :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas; Transporte das matérias primas para o setor de Produção; Granulação úmida; Secagem; Granulação seca e Envelopamento

c)Riscos de incêndio e explosão :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas

d)Respingos de materiais sobre o corpo e olhos :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas; Granulação úmida; Secagem ; Granulação seca e Envelopamento

e) Ritmo de trabalho intenso com movimentação contínua e repetitiva de partes do corpo,
posturas forçadas, rotações intensas de tronco e cabeça, e flexões de pernas :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas; Granulação úmida;Secagem; Granulação seca; Compressão; Revestimento/Drageamento; Envelopamento e Acondicionamento/Armazenagem final

f) Exposição a grandes concentrações de particulados :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas;Granulação úmida; Secagem ; Granulação seca; Compressão; Revestimento/Drageamento; Envelopamento e Acondicionamento/Armazenagem final

g) Condições sanitárias precárias para asseio pessoal :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas

h) Transportes e deslocamentos constantes em área interna reduzida:
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas e Envelopamento

i) Inadequação da porta de acesso quanto aos fluxos de entrada e saída de materiais e
pessoas :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas

j)Risco de quedas pela forma de utilização da empilhadeira na retirada de material da estante, durante o transporte dos materiais pesados ou devido ao desnível do piso :
- Armazenagem, pesagem e separação das matérias-primas e Secagem

k) Queda de objetos sobre o corpo devido a carrinho inadequado (sem contenção), ou por estarem soltos na carroceria do veículo :
- Transporte das matérias-primas para o setor de Produção e Granulação úmida

l) Ruído elevado :
-Granulação úmida; Secagem; Granulação seca ; Compressão ; Revestimento/Drageamento e Envelopamento

m) Inexistência de tratamento dos resíduos (destino final é o esgoto comum) :
- Secagem e Granulação seca

n) Ventilação insuficiente :
- Compressão e Revestimento/Drageamento

o) Instalações elétricas expostas, com cabos elétricos pelo piso :
- Compressão e Revestimento/Drageamento

p) Trabalho realizado na postura em pé :
- Revestimento/Drageamento

q) Iluminação natural insuficiente, necessidade de iluminação artificial:
- Revestimento/Drageamento

r) Derrame da solução de revestimento no piso:
- Revestimento/Drageamento

s) Riscos de acidentes de cortes com o manuseio dos envelopes de alumínio:
- Envelopamento

t) Trabalho excessivamente monótono e repetitivo :
- Acondicionamento/Armazenagem final

u) Exposição a particulados, solventes e ruídos, provenientes de outros locais :
- Acondicionamento/Armazenagem final


Ubirajara A.O. Mattos
CESTEH/FIOCRUZ, UERJ/FEN/DESMA,

Alexandre Rocha do Nascimento
CESTEH/FIOCRUZ, UFRJ

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Urgência na política de gás natural




Localizado em reservatórios subterrâneos, o gás natural (GN) é frequentemente encontrado associado ao petróleo. A descoberta das jazidas requer uma sofisticada tecnologia que inclui o reconhecimento do potencial de uma área e a perfuração de poços. O GN é uma mistura de hidrocarbonetos, principalmente metano, mas também pode conter etano, propano, butano e pentano. Uma vez retirado do subsolo, o GN é refinado para a remoção de impurezas tais como água, areia e outros gases e compostos. Depois do refino, o GN é limpo e transportado por uma rede de gasodutos ou liquefeito e colocado em navios.

O gás natural é a mais limpa, eficiente e versátil dentre as fontes primárias de energia fóssil. Além disso, apresenta outras vantagens, como abundância, disponibilidade e possibilidade de ser utilizado para firmar a demanda, quando consumido em conjunto com outras fontes renováveis. Tais características conferem ao gás natural um papel primordial em uma economia menos carbonointensiva e mais sustentatável.

Diversos países estão progressivamente focando suas políticas energéticas em direção à promoção de energias renováveis. No entanto, devido a questões políticas, técnicas, econômicas e mercadológicas, o período esperado para atingir uma matriz de base renovável será longo e exigirá significativos incentivos governamentais. Portanto, no futuro próximo, as fontes de energia fósseis continuarão a ser responsáveis por uma grande parcela da matriz energética.

Nossa vizinha Argentina é considerada como uma das maiores reservas de gás de xisto e os investimentos na sua exploração já começaram

Diante desse cenário é urgente que o governo brasileiro desenvolva uma política para o gás natural. Em particular, uma política de preços que promova um crescimento da sua participação na nossa matriz energética. É no mínimo questionável que o preço do gás natural no Brasil não reflita o fato da oferta do nosso gás ser preponderantemente gás associado ao petróleo. O gás associado pode ter três destinos: a sua queima, o que hoje é totalmente inviável diante das pressões ambientais, reinjetado ou disponibilizado ao mercado.

No final dos anos 1980 e primeira metade dos 1990 a Petrobras disponibilizou gás ao mercado por um preço mais baixo, com o objetivo de manter a produção de petróleo, já que naquela época o país possuía um problema de balança comercial devido às grandes importações de petróleo. Com a abertura do mercado de petróleo e o início dos leilões, o governo promoveu um aumento no preço do gás nacional para atrair mais empresas para explorar e produzir petróleo e gás no país. Com o pré-sal faria total sentido repensar a atual política de preços com um olhar na política adotada no Inal dos anos 1980 e a primeira metade dos 1990.

O mercado de gás natural vem expandindo sua oferta através do chamado shale gas, o gás de xisto, o que vem provocando uma queda acentuada nos preços no mercado americano. A nossa vizinha Argentina já é considerada como uma das maiores reservas de gás de xisto e os investimentos na sua exploração já começaram. É urgente uma política para o gás natural no Brasil.

(*) Adriano Pires é diretor do CBIE – Centro Brasileiro de InfraEstrutura

Fonte: Brasil Econômico/Clipping CanalEnergia, fevereiro/12

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Odebrecht compra a GDK


 

A Odebrecht fecha até o final do mês a compra da também baiana GDK, que possui 3 mil funcionários e atua em construção nacional. Negociada desde o início do ano, a operação está em fase de due diligence, mas já em seus detalhes finais. Fontes das duas empresas asseguram que a operação está praticamente concretizada.
 
O acordo está sendo costurado sob o modelo porteira fechada - ou seja, visando a compra integral de todos os bens da GDK, o que inclui instalações pelo Brasil e a base de apoio de Aratu, na Bahia, onde é possível executar a construção de módulos de grande porte para plataformas. O valor da operação é mantido em sigilo, mas o montante deve superar em muito os US$ 100 milhões arrematados pela Odebrecht há seis anos com a venda de sua subsidiária de óleo e gás para a Enterprise.
 
Analistas acreditam que o negócio Odebrecht-GDK deva ser a primeira de muitas aquisições a serem seladas nos próximos anos. A última aquisição feita pelo grupo Odebrecht no Brasil na área de petróleo foi em 1986, com a compra da Tenenge, que detinha grande experiência no segmento de construção industrial. No ano passado, o grupo comprou, em Portugal, a empresa de engenharia.
 
Todas as atividades da GDK ficarão sob o comando do segmento de Plantas Industriais da Odebrecht, hoje dirigido por Márcio Faria. A área agrega o mercado de construção e montagem de novas unidades, refinarias, terminais e plataformas e dutos. E, ao contrário do processo da Tenenge, que consumiu quatro anos entre a aquisição e a incorporação total da marca, a Odebrecht procurará apagar qualquer vestíg io do nome GDK em sua estrutura.
 
A compra da GDK assegura à Odebrecht uma nova competência ao seu ramo de negócio: a de construção e montagem de dutos marítimos e terrestres, segmento que irá crescer muito nos próximos anos no Brasil e no qual a GDK mantém forte atuação.
 
Entre as grandes obras da GDK em curso hoje está a montagem do gasoduto Caraguatatuba-Taubaté (Gastau), de 100 km e 28". A empresa também é responsável, em parceria com a Carioca Engenharia, pelo contrato para a construção do terminal de GNL da Baía de Guanabara.
 
A aquisição da GDK é a ponta da estratégia da Odebrecht no Brasil nas áreas de petróleo e construção industrial. O grupo programa seu retorno ao mercado de E&P como concessionária, posição que ocupou até 2002, quando se desfez de suas participações nos ativos de Bijupirá-Salema, BM-C-8, BM-SEAL-5 e BS-2. Hoje, o único ativo de E&P do grupo é uma participação de 15% no bloco-16, em Ango la.
 
A Odebrecht negocia também algumas operações de farm-in em áreas exploratórias brasileiras. Especula-se que as operações estejam sendo discutidas com a OGX e a El Paso, informações não confirmadas - nem desmentidas - pela sua direção.
 
Na área de serviços, a Odebrecht responde pela construção, para a Petrobras, de cinco unidades de perfuração, sendo dois navios-sonda, duas jaquetas e uma semi-submersível. Todas estão sendo montadas em estaleiros do exterior

A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E A SAÚDE DO TRABALHADOR - PARTE 1



A indústria farmacêutica pode ser considerada como um setor especial da indústria química, na qual muitos agentes naturais ou sintéticos podem ser usados para produzir produtos terapeuticamente ativos para consumo humano. Ela abrange um espectro dinâmico que tem se expandido lado a lado com a pesquisa médica, tecnológica e demandas de atenção à saúde. A dimensão dos negócios farmacêuticos vai desde conglomerados multinacionais para compostos individuais até a farmácia de dispensação.
Dados recentes sobre efeitos à saúde na indústria farmacêutica não são facilmente disponíveis. Registros de problemas de saúde ocupacional datam dos anos 40, relacionados aos perigos do manuseio de drogas de vegetais crus, solventes e subprodutos de síntese orgânica.
Desde então várias doenças tem sido associadas a fabricação de drogas, as quais incluem alergias, desordens dos rins, supressão adrenocortical e síndrome feminisation.
Além disso, alguns agentes quimioterapeuticos produzidos para combater tumores malignos podem acarretar o risco de neoplasia. As questões sobre se estas exposições são  associadas ao excesso de mortalidade daqueles expostos ocupacionalmente permanecem sem resposta.
Dessa forma o trabalho que se segue é uma análise teórica desses riscos, analisados a luz de uma série de visitas a uma fábrica no Rio de Janeiro e que irão servir para uma análise mais profunda a ser efetuada nos próximos dois anos.
A produção de medicamentos no Brasil é realizada por mais de 500 laboratórios públicos e privados, nacionais e multinacionais, que respondem pela fabricação de 10 mil medicamentos. Destes, 15 são laboratórios públicos, que representam somente cerca de 5% do valor de vendas do mercado, e geram aproximadamente 3500 empregos diretos, cerca de 400 são de natureza privada de capital nacional e cerca de 100 de capital multinacional .
O desenvolvimento de novos remédios possuem um alto custo de escala. O motivo é que as pesquisas são caras, com chances de aproveitamento final de dez por cento, porque muitos sucessos de laboratório se convertem em fracassos com seres humanos.
O custo de uma nova substância envolve milhões de dólares, dinheiro disponível para poucos. O risco se agrava com a grande concorrência entre diversos laboratórios, o que provoca o aparecimento de diversas substâncias atuantes em um mesmo problema, o que reduz o tempo para se recuperar os altos investimentos.
A conseqüência é o domínio de patentes oriundas das grandes multinacionais e de centros de pesquisa dos países do primeiro mundo, e a conseqüente dominação do mercado mundial e brasileiro por essas empresas.
As novas patentes tem como alvo os consumidores com poder aquisitivo compatíveis com os altos custos, de modo que no Brasil há a fabricação de inúmeros medicamentos ineficientes, perigosos e defeituosos pela falta de um maior mercado, o que provoca riscos para os pacientes e para os trabalhadores envolvidos na produção. A maioria da população portanto não tem acesso a medicamentos,criando uma dependência da ajuda governamental.
A fase de pesquisa e produção das moléculas têm como principais processos: a síntese a partir de substâncias químicas, a cultura de microorganismos e a extração de substâncias a partir de animais e vegetais.
Em seguida temos o estudo da produção seriada do principio ativo em uma fábricapiloto, caso seja obtido sucesso temos a produção em larga escala em uma fábrica, tanto do principio ativo como do produto final. A produção de ambos em uma mesma fábrica só está disponível para grandes empresas, concentrando-se as de pequeno e médio porte em apenas uma das fases do processo.
A fase de pesquisa e produção das moléculas têm como principais processos: a síntese a partir de substâncias químicas, a cultura de microorganismos e a extração de substâncias a partir de animais e vegetais.
Como em toda a indústria há a necessidade de serviços de apoio como estufas e refrigeração, com os seus problemas de microclima e ruído; serviços de manutenção e almoxarifado( barulho, solventes, vapores..).Há alguns serviços de impressão de rótulos( barulho, solventes) e de fotocópias (ozônio) . O uso cada vez mais freqüente de terminais de computadores provocam os habituais riscos ergonômicos.
A fabricação em grandes quantidades do principio ativo envolve riscos de calor, barulho,microclima e o uso de anti-sépticos.
O perigo específico da atividade farmacêutica é a exposição ao principio ativo nas diferentes fases do processo de fabricação. Quando as substâncias em forma de pó, são secadas e acondicionadas em recipientes, ocorre a contaminação do ar.
Os riscos ocorrem em todas as fases de trabalho, desde o recebimento do principio de uma fonte externa, com riscos maiores na fabricação de pílulas e congêneres.O processo de fermentação envolve sucessivas transferências de culturas de um recipiente para outro o que causa exposição a reagentes e solventes. Devemos levar em conta o uso de um mesmo equipamento para diferentes remédios.
A necessidade muitas vezes de ambientes esterilizados na fabricação de produtos para a pele e mucosas, e ampolas causam exposição a radiação ultravioleta e a formoaldeídos. A fase de empacotamento com o acondicionamento específico(garrafas, blisters, tubos, pacotes etc.) em caixas que revelam as propriedades toxicológicas e farmacológicas dos medicamentos acontecem em máquinas de empacotamento. As máquinas apresentam riscos de barulho e ferimentos nas mãos. Essa última fase também apresenta riscos alérgicos com a exposição dos operários por longos períodos de tempo.
A exposição aos agentes farmacológicos tem uma natureza imuno-alérgica e outra de natureza toxicológica. Como principais fatores de riscos temos a produção de hormônios e antibióticos. Os hormônios causam doenças do sistema endócrino ou efeitos colaterais de tratamentos hormonais. A exposição de homens ao histrogênio causam sintomas de ginecomastia monolateral ou bilateral. As mulheres sofrem desordens menstruais, menorragia durante a menopausa e hiperplasia do endométrio. A exposição de homens a progesterona podem causar perda da libido, ejaculação precoce, dor nos testículos e espermogramas modificados. Os sintomas regridem com o fim da exposição.
As doenças relacionadas com antibióticos são observadas particularmente com a penicilina, estreptomicina e tetraciclina. Sintomas característicos são a hipovitaminose, modificação da flora intestinal e virulências. Leucopenia, trombocitopenia e mudanças citogênicas ocorrem na exposição ao clorofênicol.
As substâncias neuroativas são perigosas: trifluoperazina causa crises piramidais , mydriasis são causadas por beladona ou atropina que penetram nos olhos, torpor e sonolência são motivadas por cocaína e morfina. Há mudanças em funções mentais em trabalhadores expostos a benzodiapina.
Manifestações clínicas similares as provenientes de overdoses terapêuticas são observadas em trabalhadores expostos a remédios cardíacos(diatolin) e vasodilatadores coronárianos(nitroglicerina).
Os principais efeitos à saúde em trabalhadores da indústria farmacêutica são doenças alérgicas , quer respiratória ou de pele.Alguns de seus produtos finais tem potencialmente  sérios efeitos colaterais e virtualmente todos são biologicamente ativos.
As dermatites de contato são as mais freqüentemente relatadas. Devido a natureza de pó solido de muitos produtos, poeiras residuais da fabricação podem ser associada com patamar ambiental.
Muitas vezes a distribuição do particulado ambiental pode se estender além da face, pescoço e limbos superiores para envolver a parte protegida/coberta do corpo. Um controle rígido dos níveis de poeiras em uma fábrica de penicilina reduziu o número de empregados que desenvolveram alergias. Em outras situações empregados que trabalhavam em locais 100m distantes da linha de produção (clorodiazepoxide), tornaram-se sensíveis a uma quinazolina intermediária.
Na fase de confecção, devido a necessidade de proteção do fármaco, de contato externo, a exposição cutânea é assim reduzida e as lesões são modestas.
Os quadros mais comuns são representados pela DESIDROSE, principalmente nas mãos e dobras. O uso de EPI’s impermeáveis acentuam as manifestações. Assim estes efeitos são sobrepostos às lesões do tipo traumático tais como abrasivos e ferimentos, e podem provocar piodermites e micoses. Para alteração da melanogenese, são possíveis acromia ou tatuagem em foco de contato, por exemplo, durante a manipulação ( na produção e confecção) de antitumorais.
Estrias cutâneas vermelhas podem ser a expressão de absorção de esteróides.
Fotodermatites tóxicas e alérgicas podem aparecer também pelo uso de cremes protetores ( a base de prometazina) e exposição a lâmpadas germicidas.Entre as afecções com patogenese imune, além da já citada fotodermatite, os quadros mais freqüentes são: a dermatite alérgica de contato, a urticária de contato e urticária e o angiodema generalizado.
Estes últimos aparecem ou por difusão de lesões de contato ou por inalação ou ingestão do alergênico. As principais substâncias causadoras de dermatite de contato estão os do grupo “para”( anestésicos locais, ácido para aminosalício, procaína, sulfamidicos), os antibióticos (penicilina, penicilina semisintética, cefalosporina, estreptomicina, tetraciclina, rifampicina, neomicina, entre outros), fenotiazínicos (clorpromazina, prometazina, etc.), etilenodiamina ( componente, com a teofilina da aminifilina), entre outros.
A patologia respiratória é, depois da dermatologia, o setor mais relevante e atual da patologia “específica “ da indústria farmacêutica.

Ubirajara A.O. Mattos
CESTEH/FIOCRUZ, UERJ/FEN/DESMA,

Alexandre Rocha do Nascimento
CESTEH/FIOCRUZ, UFRJ