16 de outubro de 2011
A década de 60 trouxe uma novidade aterradora
para o Brasil e para os brasileiros: a instalação de um poder discricionário,
um regime de exceção sustentado nas baionetas que durante muito tempo somente
alguns poucos no país tiveram a coragem de enfrentar. A supressão das
liberdades e a edição de atos institucionais permitiam a violência política, a
tortura, os desaparecimentos, a eliminação física e um governo paralelo que,
sustentado em mercenários e polícias secretas, agia nos porões para sustentar o
regime opressor sem permitir qualquer forma de oposição.
Se vivo estivesse, o jornalista
Othelino Nova Alves teria completado, ontem, 100 anos de existência. Falecido
em 30 de setembro de 1967, sua vida foi ceifada pelas balas covardes de um
caciquismo que vigorava na periferia do regime de exclusão que mal podia
suportar a ação temerária e destemida dos que, como ele, amavam a liberdade.
A sua é uma história de muito
sofrimento, vítima que foi de atentados em Manaus, Piauí, Ceará e no Maranhão,
até que aqui caísse sangrando definitivamente em praça pública como testemunho
solitário de que há homens que lutam um dia ou durante anos, mas há os
imprescindíveis que lutam a vida inteira. E esse é o rosto esquecido de
Othelino Nova Alves.
Uma história que precisa ser contada
com mais vagar, posto que, no Maranhão, representa o sacrifício de vidas
humanas em defesa da liberdade de expressão e dos direitos dos povos, da
salvação dos oprimidos.
Para quem vinha de enfrentar a ditadura
do Estado Novo, regime centralizado e autoritário concebido por Getúlio Vargas,
afinal uma cópia sangrenta do salazarismo português; regime que valeu ao
jornalista um ano de prisão em Fortaleza sem que ainda tivesse completado 30
anos de idade, Othelino também não se renderia ao poder arbitrário do regime
militar e dos caciques políticos que no entorno da ditadura escolheram
silenciá-lo para sempre.
Certamente que a História fará Justiça
a esse mártir da imprensa cujo busto foi arrancado ao panteon da própria
História para satisfazer vaidades estúpidas ou não sobrepor-se como exemplo
insofismável da existência de uma disfarçada tirania que ainda hoje domina o
Maranhão.
A queda de Othelino Nova Alves
representa o desabar dos sonhos de liberdade e democracia de sucessivas
gerações; sonhos nunca realizados porque ainda hoje sentimos o gosto amargo do
ferrolho na boca, porque ainda hoje, como profissionais de imprensa, somos
tolhidos, seja pelo poder econômico, seja pela vassalagem circundante, de
denunciar os tiranos, corruptos, os corruptores e a corrupção.
Que seja essa data uma lembrança eterna
para as almas libertárias dos maranhenses que ainda resistem “Na liça”,
conscientes de que o bem maior do homem é a liberdade e de que não há prisão,
tortura ou perseguição que cale os corações valentes dos poucos heróis que
guardam esse mesmo espírito livre e destemido de Othelino Nova Alves.
Nenhum comentário:
Postar um comentário