Para Alessandro, Dilma não dialoga com os movimentos sociais porque se aliou ao “eixo do mal”, termo utilizado por ele para se referir ao tripé agronegócio, “fundamentalismo religioso” e grandes veículos de comunicação. Uma aliança sustentada, segundo o petista, pelo “núcleo duro” do governo: as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Helena Chagas (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) e os ministros Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde) e Paulo Bernardo (Comunicações).
Homofobia
Na avaliação dele, esse grupo é responsável por barrar o avanço das pautas apresentadas pelos movimentos sociais e pelo retrocesso no combate à homofobia. “A presidenta disse que não é papel do governo fazer defesa de opção sexual. Isso mostra que ela tem dificuldade de entender o que é avanço de direitos civis e de cidadania”, critica.
Segundo Alessandro, desde que o governo recuou na distribuição do kit anti-homofobia, por pressão da bancada evangélica no Congresso em 2011, o assunto nunca mais voltou à pauta do Ministério da Educação. “Até hoje a gente não conseguiu retomar essa discussão. Não dão abertura para voltarmos a conversar. As informações que a gente tem é que documentos que trabalham com o tema homofobia são vetados, precisam ser reeditados. A palavra homofobia não entra no MEC”, reclama Alessandro.
Endurecimento de críticas
Além da parceria entre o “núcleo duro” e o “eixo do mal”, o perfil centralizador da presidenta Dilma também prejudica a relação com os movimentos sociais, considera o militante. Para ele, falta diálogo entre os ministérios, os ministros pouco se expressam e, quando o fazem, são repreendidos. Uma letargia que não passa incólume aos movimentos sociais, acostumados a uma relação para lá de intensa nos tempos de Lula.
“O posicionamento de todos os movimentos sociais é sempre na evolução da intensidade da crítica ao governo. O MST, a CUT, a UNE, as mulheres, o movimento negro, não há um movimento social que faça uma avaliação positiva do governo. Há sempre um endurecimento de críticas ao governo. O cerco da PF no Ministério de Minas e Energia não me lembrou o governo Lula, mas o governo FHC”, critica.
Sem alternativa
Apesar da relação fria entre o governo e os movimentos sociais, Alessandro avalia que há pouca chance de algum dos pré-candidatos capitalizar a insatisfação dos militantes da sociedade civil com Dilma. Para ele, Aécio Neves (PSDB) representa a “política do cassetete”, Eduardo Campos (PSB) “não tem relação melhor com os movimentos sociais” e Marina Silva (sem partido) “não tem opinião”. “Veja como vamos mal das pernas”, cutuca.
Criado em 2005, ainda no primeiro governo Lula, o Conjuve é ligado à Secretaria Nacional de Juventude e à Secretaria-Geral da Presidência da República. Composto por 20 membros do governo federal e 40 representantes da sociedade civil, tem entre suas atribuições formular e debater políticas de juventude. Alessandro foi eleito em 16 de maio para mandato de um ano.
Natural de São José do Rio Preto (SP), o estudante de Direito Alessandro Melchior, de 26 anos, começou sua militância política no movimento estudantil secundarista, como membro da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes). Integrante da corrente majoritária do PT, Alessandro milita desde 2008 no movimento LGBT, pelo qual foi indicado para ocupar uma cadeira no conselho.
Meia-entrada
Nesta entrevista ao Congresso em Foco, além de criticar o distanciamento de Dilma em relação aos movimentos sociais, o militante também faz ressalvas às políticas de juventude e antidrogas, adotadas pelo atual governo.
O presidente do Conselho Nacional de Juventude joga a toalha quanto à definição de um limite de 40% para a venda de meia-entrada em espetáculos artísticos e esportivos. A cota foi incluída no projeto do Estatuto da Juventude, aprovado no mês passado pelos senadores e que será examinado novamente pelos deputados. “Isso significa que estudantes, adolescentes e idosos vão disputar esses 40% com professores, policiais militares e pastores, todas as diversidades que os estados acharem importante. Aí não haverá meia-entrada para ninguém.”
Congresso em Foco
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