Fraudes, formulários adulterados, nomes de candidatos subtraídos dos questionários, jovens usados como massa de manobra - Saiba como o Ibope manipulou resultados das consultas para as prefeituras de Curitiba, Manaus e João Pessoa
As eleições municipais no Brasil podem esconder um perigoso jogo de interesses políticos e econômicos sustentado pela manipulação artificial de pesquisas eleitorais.
Nesse cenário pernicioso, denúncias apontam diretamente para os institutos de pesquisa e opinião eleitoral como instrumentos legais usados para influenciar, de forma certeira e eficaz, a ‘cabeça’ do eleitor na hora da escolha pelo candidato preferencial.
Indignação social
Mas o uso corrosivo das pesquisas eleitorais parece provocar, simultaneamente, um sentimento social de indignação e revolta de parte da população.
Há, assim, movimento ainda imerso de aversão pública às consultas promovidas pelos institutos oficiais de pesquisas.
O grito constipado avesso aos institutos e pesquisas permanece ainda sufocado. Muitos desses indignados mostram medo de represália de grupos políticos e econômicos que, suspeitosamente, bancam financeiramente estes institutos.
Essa repulsa cresce à medida que os resultados das urnas, ao final de cada eleição, diferem, em muito, aos índices sugeridos pelos institutos.
Nesse contexto, para contrapor, as redes sociais destacam-se como ferramentas importantes usadas pelos inúmeros informantes virtuais, que se rebelam na rede mundial de computadores, disparando comentários descritivos, acusações, manifestos revoltosos, opiniões e multiplicando informações “confidenciais”.
Projeção política
O quadro eleitoral torna-se ainda mais suspeito quando as projeções políticas dos candidatos almejam as eleições subsequentes para os governos estaduais, programadas para pouco mais de dois anos, em 2014.
O estado do Paraná mostra um panorama bastante tendencioso. O atual governador, Beto Richa (PSDB) tem interferido diretamente na campanha do do prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, do PSB, que tenta a reeleição, com aparições enfáticas na televisão, superexposição midiática e reforçando a presença da própria família na campanha de Luciano.
A eleição municipal atenderia, assim, a etapa mais importante para a disputa ao governo do estado. Há ainda a aliança classificada como “antagônica” do grupo do neopedebista Gustavo Fruet, apoiado pelo casal de ministros do PT, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações).
Dizem os atentos que a prefeitura de Curitiba é a plataforma política para lançar a senadora e ministra Gleisi a concorrer, pelo Partido dos Trabalhadores, ao governo do Paraná.
Outros dois candidatos configuram o cenário de forma mais proeminente. Ratinho Junior, do PSC, filho do apresentador de televisão Ratinho, dono da Rede Massa de Televisão, surge como novidade no cenário. Ratinho, o filho, declara-se independente politicamente, sustentado por um discurso jovem, mas ainda pouco substancial.
Sua independência é colada em prova pela população quando questionado sobre o apoio que recebe do ex-deputado federal e hoje suplente na Câmara dos Deputados, Marcelo Almeida, que mantém supostos negócios com as empresas concessionárias de pedágio no Paraná.
Rafael Greca, do PMDB, aparece como uma das opções viáveis ao eleitor curitibano. Ex-prefeito de Curitiba ampara-se pela experiência como homem público, pelas obras sociais que implantou na capital paranaense, quando comandou o município, entre os anos de 1993 e 1996, e por uma campanha sustentada por propostas e pela criatividade, sem muitos recursos.
Greca enfrenta a disputa por chapa pura com o apoio ‘rachado’ do partido. Parte da executiva municipal do PMDB ignorou sua candidatura e migrou de modo declarado apoio ao atual prefeito e candidato à reeleição, Luciano Ducci.
O informante
Num cenário de interesses difusos, os institutos de pesquisa, de acordo com denúncia de um informante “indignado”, parecem tentar interferir e contaminar o senso crítico e decisório da população.
Uma das acusações lança sérias dúvidas quanto aos critérios metodológicos, à validade legal e a aplicabilidade das últimas pesquisas de opinião pública elaboradas pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística).
A denúncia, enviada por um dos pesquisadores do próprio Ibope e divulgada pela fan page “Chega de Imagens”, no Facebook, revela a investida ilegal do instituto em mecanismos persuasórios e de chantagem política, a aplicação inadequada do treinamento dirigido aos pesquisadores de campo, a manipulação e a compra dos formulários de análise, assinados em branco, por parte dos pesquisadores contratados.
“Trabalho no IBOPE realizando as pesquisas de eleição. Realmente os resultados são bem diferentes em relação à pesquisa que fazemos e o que é divulgado na mídia. Pedi minha demissão hoje, 14/09, por este e outros motivos!!”, diz trecho da mensagem, encaminhada pelo informante revoltado.
Pesquisa adulterada
Contratado por meio de uma agência de empregos terceirizada do Ibope, o informante disse que existe ainda, a indução das respostas dos entrevistados e a desobediência de vários critérios científicos previstos pela Legislação para a elaboração de consultas eleitorais de opinião pública como ponderação, margem de erro, sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo, entre outros dispositivos normativos.
De acordo com a acusação, os supervisores do Ibope usaram as fichas eleitorais simplesmente para legitimar as pesquisas de opinião. No caso de Curitiba, o informante indignado endossou a acusação apoiado por outros pesquisadores de campo do grupo de trabalho dele (sempre de 20 pessoas) que anotavam os votos de cada candidato.
Pela tabulação informal, o resultado não correspondia em nada aos índices divulgados. Além disso, informou o consultor, já existiam margens pré-estabelecidas – o numeral dos candidatos, com percentual, variando pouco.
Formulários fake
Os formulários fake usados pelo Ibope tinham as duas primeiras páginas descartadas. Aos consultores, bastavam apenas as informações pessoais dos entrevistados para, depois, quando receberem os documentos, validarem as fichas de pesquisa.
Ainda, nas páginas relacionadas, não há pesquisa espontânea. Os pesquisadores, então, liam apenas os nomes dos três candidatos eleitos pelo Instituto para destacarem no relatório. Com tudo isso, a finalização e o processamento, se davam de forma interna e com campos em branco. Nessa lógica, os supervisores do Ibope usavam apenas as duas páginas iniciais das fichas eleitorais. As alterações eram feitas na abordagem das outras folhas
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Cenários similares
Os resultados das pesquisas perderam credibilidade, por ironia, também entre os grupos políticos. Em Manaus, reportagem recente divulgada pelo Portal UOL, mostra esse cenário.
Quatro dos nove candidatos à Prefeitura de Manaus, capital do estado do Amazonas, desmereceram completamente o resultado da pesquisa Ibope, divulgada na noite do dia 16 de agosto, deste ano. Apenas o líder da consulta, candidato do PSDB, Artur Neto concordou com os números.
O pesquisador denunciante do Ibope participou de consultas em Manaus, onde também desconsiderou os métodos de aferição, que, segundo ele, adulteravam os resultados.
Há poucos dias, outro escândalo recaiu sobre o Ibope eleitoral, desta vez em João Pessoa, capital do estado da Paraíba. Houve, inclusive, a suspensão de pesquisa para a disputa à prefeitura. A juíza eleitoral da 70ª zona eleitoral da Paraíba, Túlia Neves, suspendeu a realização de uma pesquisa Ibope para a Prefeitura de João Pessoa. Repetindo a denúncia,o motivo foi à omissão do nome de uma candidata e um dos formulários da pesquisa.
Em nota, o Ibope negou irregularidade, mas informou que, “comprometido com a lisura de suas pesquisas e com sua credibilidade, decidiu interromper e cancelar a pesquisa que estava sendo conduzida neste momento. Oportunamente será agendada uma nova rodada de pesquisa eleitoral neste município”.
A determinação da Justiça Eleitoral veio depois que um pesquisador do Ibope foi detido enquanto realizava a pesquisa. Junto com o pesquisador, havia uma cédula do questionário em que não constava o nome da candidata Estelizabel Bezerra (PSB).
Balcão de negócios
Em pleno julgamento do “mensalão”, as pesquisas de opinião pública compradas parecem completar o balcão de negócios da política brasileira.
O ministro Joaquim Barbosa apontou, esta semana, o nome de dois deputados paranaenses, que morreram enates do início do julgamento do mensalão, como participantes de esquemas ilícitos de compra e venda de apoios políticos.
Segundo o ministro, José Carlos Martinez recebeu diretamente R$ 400 mil em setembro de 2003 para levar o PTB, partido que presidia na época, a apoiar o governo Lula. Outro nome, José Janene, que era tesoureiro do PP, teria recebido R$ 700 mil junto com outros dois deputados da legenda, Pedro Henry e Pedro Corrêa.
Martinez morreu menos de um mês depois dos repasses em um acidente de avião no Litoral do Paraná. Em 1990, filiado ao PRN do ex-presidente Fernando Collor, disputou o governo do Paraná e perdeu no segundo turno para Roberto Requião (PMDB). Eleições, pesquisa e compra de apoio político estariam no mesmo balaio de ofertas?
Contrato ameaçador
Para firmarem o contrato de trabalho com o Ibope, disse, em relato, os pesquisadores precisam assinar um termo de sigilo ameaçador.
O documento declara que caso seja divulgado detalhes sobre o trabalho deles, repassada alguma cópia numerada do formulário para a imprensa ou ainda utilizada outra forma diferente ao Ibope, “os contratados receberiam justa causa, ficariam sem receber salário e sofreriam ‘outras consequências, pois a política é um jogo perigoso”.
Massa de manobra
Somente e exclusivamente jovens, entre 18 e 21 anos, são contratados pelo Ibope para o trabalho de pesquisas de campo quantitativas. Denúncias de internautas revelam que há preferência do instituto para o recrutamento de jovens.
A tese é comprovada por Geovanni De Luca. Em mensagem nas redes sociais, o dentista curitibano fez um extenso desabafo contra a conduta dos pesquisadores.
De Luca disse que foi preterido por um dos pesquisadores para participar de uma consulta qualitativa ao identificar-se com 30 anos de idade e confirmar formação universitária.
“Quando respondi que sou cirurgião dentista, ela (pesquisadora) disse: “Ahhh, que pena, só pode ser pessoas sem curso superior”.
Disse ainda, curiosamente:“Ahhh que pena, gostaria muito de poder ajudar, mas por que não posso ter curso superior para responder?".
A consultora, de imediato respondeu: "Senhor, geralmente, quem decide isso é a empresa que contratou a pesquisa, ela forma o perfil das pessoas que podem ser entrevistadas pelo nosso instituto, isso está tudo no contrato".
Completou ainda a supervisora: “Quem tem curso superior é formador de opinião. Então o que foi contratado para esta pesquisa foi que a abrangência poderia ser só com pessoas sem curso superior (com primário ou no máximo 2º grau completo enão possuir bem móvel ou imóvel".
Recrutamento suspeito
Boa parte dos pesquisadores, cerca de 100 pessoas, na capital paranaense, foi contratada, para as duas últimas pesquisas realizadas pelo Ibope, por uma agência de empregos, terceirizada para o recrutamento dos profissionais.
O pagamento dos trabalhadores, no entanto, foi feito pelo Instituto Veredicto, situado no município de Campo Mourão, no Noroeste do Paraná, base eleitoral do candidato a vice-prefeito pelo PPS, Rubens Bueno.
Normas adulteradas
Os pesquisadores obedeceram somente o critério de bairro para aplicar a pesquisa, esquecendo a norma que divide o município por zonas eleitorais. Cada um recebeu, em média, 340 formulários, para três dias de pesquisa de campo.
Segundo o denunciante, vários erros foram estimulados em todo o processo para elaboração das pesquisas. Como opção de voto no questionário, por exemplo, apareciam apenas três ou quatro candidatos.
Os pesquisadores de campo, então, dirigiam-se aos entrevistados com a seguinte indagação: -"Em quem o Sr. ou a Sra. votaria para prefeito de Curitiba, se a eleição fosse hoje?" Como opções, o formulário dispunha: Luciano Ducci, Ratinho Júnior, Ratinho Júnior, Gustavo Fruet, Não sabe, Branco/nulo.
Os nomes dos demais candidatos Rafael Greca, Bruno Meirinho, Carlos Moraes, Avanilson Araújo e Auzimara Bacellar, não apareciam no questionário. Em caso de dúvida dos eleitores, por uma das três opções de candidatos indicadas pelo questionário, os pesquisadores eram orientados a responder: "Pode optar por não sabe ou branco e nulo sr..".
Quando citados pelos entrevistados, os candidatos Rafael Greca, do PMDB, e Bruno Meirinho (PSOL), eram identificados pelos pesquisadores com códigos sugeridos pelos supervisores. Rafael Greca era marcado no questionário, em lápis, por R15 e Meirinho, por PS. Os nomes de outros postulantes apareciam nas fichas como voto em branco, segundo orientação dos supervisores do Ibope.
Desse modo, quando o entrevistado não identificava o candidato preferido, de forma tendenciosa, diz a mensagem de denúncia, “ela optava, então, por um dos candidatos na lista. (Luciano Ducci, por exemplo.)”.
Método insidioso
Os erros nos formulários se repetiam. Quando os pesquisadores recebiam pedidos dos entrevistados votarem em outros candidatos deixaram o restante dos formulários em branco.
Para completar o método insidioso, todos os pesquisadores assinaram os formulários em branco e os entregavam aos supervisores do Ibope, qual o destino dos documentos.
“Eu via as fichas que entreguei em branco, preenchidas depois. E as ficham favoreciam a maioria para o Luciano Ducci”, disse o denunciante.
O pesquisador denunciante ouviu ainda de um amigo, coordenador de processamento de dados, que uma das supervisoras avisara, em determinado momento, que havia recolhido as fichas em branco necessárias para a formatação da pesquisa.
E, ao avistar os formulários sem informações, repassados ao instituto, percebeu que a maioria dos votos seguia para Luciano Ducci, do PSB, atual prefeito e candidato à reeleição.
Voto redirecionado
Havia, segundo o denunciante, muitas pessoas aptas a votar no candidato do PMDB, Rafael Greca, e muitas pessoas indecisas, entre Gustavo Fruet e Ratinho Júnior. Quando esse cenário emergia, os votos dos formulários eram direcionados para Ratinho, de prontidão.
De modo contraditório, os pesquisadores precisaram ainda assinar um termo exigindo a entrega de todos os formulários completos, de acordo com o treinamento, realizado um dia antes da aplicação da pesquisa. “Foi quando vi as fichas preenchidas”.
Acordo ilícito
As irregularidades indicam ainda casos de acordo ilegais entre os supervisores do Ibope e alguns pesquisadores. Algumas pessoas contratadas, sem motivo aparente, simplesmente abandonavam o treinamento “relâmpago”, de cinco a dez minutos de duração, para não mais retornar ao instituto.
Suspeita-se, segundo relato da denúncia, que vários pesquisadores recebiam o dobro do valor combinado para devolver os formulários assinados e em branco.
Esses consultores eram identificados e procurados depois pelo instituto pelo cadastro prévio na agência de trabalhador contratada para o recrutamento, onde repassaram dados pessoais como número telefônico, de identidade e o CPF.
De um grupo de 20 pesquisadores, quatro abandonaram o trabalho de campo ou não devolveram os questionários. Quem permaneceu, recebeu 25% a mais do valor combinado por suposta “produtividade”, depois de entregarem as fichas assinadas. Os demais pesquisadores que deixaram o instituto, segundo denúncia, receberam em dobro e assinaram termo de compromisso.
Recibo e subtração de nomes
Todos assinaram um recibo em nome de um instituto, com sede em Campo Mourão, que repassava o dinheiro para o pagamento ao Ibope.
“Então essa pesquisa ficava destorcida. Pois a pessoa quer votar em outro, mas a pesquisa induz para optar por um dos três candidatos ou nulo/branco”.
Além da subtração de nomes de candidatos, os treinamentos aplicados aos pesquisadores resumiram-se a cinco minutos de explanação de uma supervisora do Ibope, para grupos distintos de 20 pessoas cada um, na sede do próprio órgão, na Rua Padre Anchieta, no centro de Curitiba.
“Após isso, já começamos a pesquisar para valer. Muitos estavam confusos, perdidos, não sabiam o que fazer. Eram muitas duvidas”, diz trecho de relato da denúncia.
“Um menino que estava trabalhando do meu lado, por exemplo, abandonou a empresa durante o intervalo de 10 minutos. Nunca mais voltou. Ele disse para mim antes de sair, que era muito confuso e não sabia o que fazer”, destacou ainda o pesquisador que atuou no Ibope.
Consulta para idosos
Outra irregularidade apontada refere-se à abordagem da faixa-etária. Curiosamente, as entrevistas ocorreram, em maioria, com idosos e pessoas acima de 60 anos de idade, que não são obrigadas a votar.
“Muitos tinham sinais de surdez ou dificuldade para falar, raciocinar, pensar. Então, eram "presas fáceis". Em 200 ligações que fiz num dia só, digamos que 130 eram números errados/avariados/não existentes, 60 eram de idosos e 10 eram de pessoas entre 18 e 50 anos”, diz trecho da mensagem.
E completa: “Então era uma coisa desproporcional. Pesquisávamos, praticamente, só idosos, sem obrigação de voto”.
Despreparo funcional
Os problemas identificados remetem ainda a falta de preparo dos profissionais, erros dirigidos pela pesquisa, que teve duração contínua de três dias. “Sem falar o sistema de pesquisas, que caía toda santa hora, e tínhamos que esperar para voltar”.
Diz ainda: “Três dias para pesquisar uma cidade inteira sobre sua intenção de voto, com funcionários despreparados, uma pesquisa indutiva para votar nos candidatos lidos, e na maioria os entrevistados eram idosos. Parece errado? acho que sim”,questiona o pesquisador.
Oferta inesperada
Pouco tempo depois de lançar a denúncia pelas redes sociais, o pesquisador disse que recebeu um telefonema de uma das supervisoras do Ibope.
Na ligação, para surpresa, o denunciante foi informado que o pagamento seria antecipado e efetuado em dinheiro. “Não era praxe de pagarem em dinheiro”.
Além do pagamento adiantado, o denunciante recebeu uma oferta de emprego da agência terceirizada pelo Ibope para trabalhar para um vereador do PPS.
Como medida de segurança, o jovem pesquisador pretende dirigir-se à agência para receber o pagamento acompanho pelo tio, que é tenente-coronel da Polícia Militar.
Indignação justificável
Alguns fatores motivaram a indignação do denunciante quanto às práticas adotadas pelo Ibope. Em conversa por telefone, o jovem contratado pelo Ibope disse que dois principais fatores motivaram-no a indignar-se com o Ibope.
A primeira razão refere-se aos resultados apresentados para a sociedade e para a imprensa que, segundo ele, “em nada correspondem à realidade das pesquisas”.
Resultado irreal
Segundo o denunciante, nas consultas feitas por telefone, por exemplo, o cenário da disputa eleitoral, em Curitiba, mostra-se bastante distinto ao divulgado.
Nessa pesquisa, os números são os seguintes: Ratinho: 22%; Ducci: 17; Rafael Greca: 16% e Gustavo Fruet: 16%.
Ao contrário dos índices propagados, os números reais mostram uma disputa aberta entre os candidatos e empate técnico entre quase todos os postulantes.
Nas ruas
Quadro bastante parecido se repetiu com a consulta feita nas ruas. Nesse cenário, o pesquisador informou, com base nos formulários reais, analisados por ele e por outros colegas pesquisadores, preenchidos durante o trabalho de campo.
Também sustenta as dúvidas quanto às práticas tendenciosas do Ibope por informações transmitidas por um dos amigos, que atua como supervisor do Ibope.
Os números reais, conforme o informante, mostram novamente empate técnico entre os candidatos Luciano Ducci, Rafael Greca e Gustavo Fruet, ao considerar-se a margem de erros de três pontos para mais e três pontos para menos.
Disse ele que esses três candidatos aparecem com índices entre 15 e 20 pontos percentuais. Nessa pesquisa, apenas Ratinho Júnior destaca-se aos demais, com uma média de 24 a 27%.
O bolso é justo
Os resultados manipulados das pesquisas causaram completa indignação ao jovem pesquisador, que completou 19 anos, no dia 18 deste mês.
Por isso, dirigiu-se à agência de trabalho que o contratara para o trabalho, quando disse considerar “injusto principalmente o que estavam fazendo com o Rafael Greca”.
Como resposta do chefe do departamento financeiro da agência de trabalho a seguinte resposta: “O que é justo é o que está no seu bolso”.
Resposta social
Em entrevista por telefone, o jovem pesquisador disse ainda que se indignou, sobretudo, porque gosta do candidato peemedebista Rafael Greca, por um motivo bastante específico: “Nasci por meio do programa “Nascer em Curitiba, Vale a Vida”, rebatizado pela atual administração municipal por “Mãe Curitibana”.
O programa foi criado por Rafael Greca, entre os anos de 1993 e 1996.
Fichas em branco
Sobre os métodos insidiosos de pesquisa aplicados pelo Ibope, o rapaz informou ainda que quando trabalhava em campo, durante as consultas, levava 50% de fichas preenchidas com os nomes dos candidatos, com marcações de votos em branco/nulo e indecisos sem marcar.
Uma das irregularidades diagnosticadas referia-se ao questionário sobre o voto espontâneo. Nessa pergunta, ele apresentava ao entrevistado o nome de três candidatos: Luciano Ducci, Ratinho Junior e Gustavo Fruet.
No quesito, o pesquisador, pelo método correto, deveria apenas lançar a pergunta sem citar nenhum nome.
Disco de aferição
Contrariando ainda a metodologia, os pesquisadores, informou o jovem, não aplicavam o chamado disco de pesquisa, que contém os nomes de todos os candidatos, como instrumento de aferição, bastante usado pelos institutos de pesquisa.
Os discos eram levados pelos pesquisadores para o trabalho de campo, mas nunca aplicados. Atendendo orientação dos supervisores do Ibope, os discos deveriam ser apresentados apenas aos fiscais do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), caso houvesse alguma fiscalização nas ruas.
Relatou ainda o denunciante que mais da metade dos formulários, entregues aos pesquisadores, não foi preenchido com nenhuma informação. Os documentos foram devolvidos em branco apenas com a assinatura dos pesquisadores, além do nome, a idade, sexo e o bairro dos entrevistados.
Margem desproporcional
Segundo a acusação, a margem de erro da pesquisa também recebeu adulterações. “Foram lançadas (margens de erro), de forma desproporcional, para 10 pontos percentuais para cima ou 10 pontos percentuais para baixo”, disse.
Suspeita-se que a RPC (Rede Paranaense de Televisão) afiliada da Rede Globo de Televisão, sabe e consente com o método corruptivo adotado pelo Ibope para a aplicação das pesquisas.
O denunciante apoia a suspeita em conversas com o amigo que trabalha há 15 anos no Ibope, como coordenador de processamento de dados.
Central telefônica
Da conversa, lembrou ainda o jovem que a pesquisa interna por telefone foi realizada pelo Ibope, em uma Central Telefônica, situada na Rua José Loureiro, no centro de Curitiba. A Central Telefônica pertencia, diz ele, ao PSDC, onde os pesquisadores usavam os telefones para aplicação da consulta eleitoral.
Na entrevista telefônica interna, eles (os pesquisadores) apresentavam aos entrevistados os nomes de apenas quatro candidatos: Ratinho Junior, Luciano Ducci, Gustavo Fruet e Rafael Greca. Os demais candidatos foram indicados na lista como “outros”.
Outra denúncia partiu do jovem Henry Sousa. Diz ele que, ao receber ligação do Ibope sobre preferências eleitorais, o candidato Rafael Greca, situado em quarto lugar nas pesquisas de opinião, em Curitiba, não foi citado pela consultora na questão relativa à possível disputa de segundo turno.
“Agora a parte mais intrigante: Entre Ratinho Jr e Dutti? Entre Dutti e Fruet? Fruet e Ratinho Jr? (Perguntei se era para segundo turno e ela disse: Não, é apenas se tivesse eles de opção. Perguntei de novo: E se o Greca fosse para segundo turno? Ela disse: Não temos essa opção)”, relatou Henry Sousa.
E complementou:“Achei muito tendenciosa a pesquisa. Queriam quase me forçar a escolher algum dos outros candidatos. Só não me tiraram a opção de voto nulo porque ainda vivemos em uma democracia”.
Manaus
O jovem pesquisador denunciante disse que participou da consulta feita pelo Ibope, em Manaus. Na capital do estado do Amazonas, por coincidência ou não, todos os candidatos contestaram as últimas pesquisas do Ibope. Apenas o líder das consultas não indagou os resultados.
O pesquisador afirmou que existem problemas sérios em Manaus, "porque o segundo colocado, é quem realmente está na frente nas pesquisas”. “O mesmo problema deverá se repetir em Curitiba, pela alteração dos resultados”, sugeriu.
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José Carlos Sucupira ( Cientista politico Pós graduado na Universidade de Coimbra e Jornalista Vencedor do Premio Esso- Caso Riocentro)
José Carlos Sucupira ( Cientista politico Pós graduado na Universidade de Coimbra e Jornalista Vencedor do Premio Esso- Caso Riocentro)
Pedro Lichtnow ( Jornalista)
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