MAIS UM GRADE RISCO DE AGRESSÃO AMBIENTAL.
O mapa da energia está mudando rapidamente no meio de grande dúvida ambiental. O shale gas, gás de xisto, inexistente no mercado até recentemente, já é um terço da produção de gás dos EUA e o país começa a sonhar com a autossuficiência energética. O efeito colateral da novidade pode ser a contaminação do lençol freático. A Petrobras avalia riscos e chances dessa nova fonte.
A fonte não convencional de gás era conhecida, mas só há poucos anos sua exploração se tornou viável através do desenvolvimento de uma nova tecnologia conhecida como fracking. A rocha betuminosa é fraturada com injeção de água, areia e aditivos químicos para se extrair o gás. Os EUA e Canadá têm grandes reservas dessa fonte de energia e já começaram a produzir, mas a exploração é proibida em vários estados. Alguns países, como a França, também a proíbem. Já há casos de suspeita de contaminação de lençol freático.
No Brasil, está havendo pesquisa na Bacia do São Francisco, pela Petrobras e por duas empresas privadas. A estatal brasileira vê tudo isso com cautela, avaliando riscos, mas já sente os efeitos da nova onda. O preço do gás nos Estados Unidos despencou para US$ 2 o metro cúbico - o menor preço desde 2001 - enquanto o Brasil importa a preços entre US$ 13 e US$ 14, o que reduz dramaticamente a competitividade do país.
Uma parte da queda dessa capacidade de competir afeta diretamente a petroquímica, porque em alguns casos esse gás é associado a produtos que são matérias-primas para o setor, como o etano. Várias empresas do setor estão voltando aos Estados Unidos, como a Dow Chemical e a Metanex, que está saindo do Chile para a Louisiania. Para o governo americano, aumentar a capacidade interna de produção de combustível é questão de segurança nacional.
Esse quadro de mudança encontra a Petrobras com dois dos seus preços - gasolina e diesel - com defasagens em torno de 18% a 20%. E na área de combustível o Brasil está numa situação complicada: o consumidor paga mais caro do que em outros países, como Estados Unidos, por causa da carga de impostos. O governo abriu mão da Cide e isso foi uma das causas, segundo a Receita Federal, da queda de arrecadação nos últimos dois meses. A Petrobras está tendo prejuízo, e o setor de etanol está sem horizonte para investir.
A estatal está num forte programa de investimento de US$ 44 bilhões para aumentar a exploração, produção de petróleo do pós-sal e pré-sal, está contratando 40 sondas de perfuração. Há um atraso de dois anos no fornecimento de sondas do exterior. As perfurações feitas até agora em águas ultraprofundas têm tido alto grau de acerto, apesar de o petróleo que se encontra ser associado a volumes elevados de CO2, o que torna a exploração mais cara.
Entre os analistas, o que se registra é que a empresa pensava, em 2006, quando se anunciou o pré-sal, que essa seria a nova fronteira energética e que as reservas provadas iriam rapidamente dobrar de 14 bilhões de barris para perto de 30 bilhões. E isso não se tornará realidade a curto prazo. Já as fontes não convencionais de petróleo e gás de xisto estão se tornando realidade mais rapidamente, mudando o mapa da energia.
O balanço ambiental das novas fontes é misto. Por um lado, elas têm permitido reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos porque algumas usinas estão trocando o carvão por esse gás. Por outro, há riscos não suficientemente avaliados. Os temores são de contaminação dos aquíferos por metano e outros produtos químicos, e o risco de vazamento de metano para a atmosfera, gás mais nocivo que as emissões de carbono.
Fonte: Miriam Leitão, “O Globo”, agosto/12
Nenhum comentário:
Postar um comentário