CARLOS CUNHA
Carlos Cunha, nome literário e jornalístico de Luiz Carlos Cunha, que nasceu em São Luís, em 18 de maio de 1933. Escritor, poeta, ensaísta e cronista. Licenciou se em Geografia e Historia, pela Universidade Federal do Maranhão. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Maranhense de Letras e da Associação Brasileira de Imprensa.
Em 1959, fundou o Instituto Lourenço de Moraes, através do qual manteve o Colégio Nina Rodrigues.
Intelectual irrequieto, declamador incomparável, foram inúmeros seus recitais em auditórios, colégios, praça pública, quando ele punha platéias e auditórios em silêncio absoluto, ao recitar o Cântico Negro, de José Régio. Participou de diversos movimentos literários e culturais, como Academia Maranhense de Trovadores e Academia dos Novos. Escreveu para diversos jornais, entre eles, para o Jornal Pequeno, crônicas que oscilavam entre o poético e o satírico, entre o erudito e o polêmico. Foi também editor, mas sobretudo educador, poeta e jornalista. Entre 1967 e 1985, através de sua própria editora, Mirante, publicou inúmeros livros, entre eles Cancioneiro do Menino Grande, 1972; Um perfil de Pandiá Calógeras, 1973, dentre outros.
MISÉRIA DO POVO É LUCRO PARA QUEM GOVERNA
Carlos Cunha
(O Estado do Maranhão, 30/05/1978)
O inverno chega, o brasileiro das zonas rurais acalenta esperanças de boas safras, base de sua sobrevivência durante as outras estações. Este ano, alguns órgãos de desenvolvimento econômico projetaram negras estatísticas para a agricultura brasileira, sempre castigada pelo extremismo da natureza: as geadas de 1976, em São Paulo, prejudicaram as colheitas da soja, produto, na época, de peso nas exportações do País, ou contrariamente a seca que nada frutifica. Mas ingressamos em março, em pleno inverno, ainda em tempo de recuperar os prejuízos do retardamento das chuvas.
No Maranhão, lamentavelmente, a agricultura é praticada em moldes rudimentares, instrumento de produção característico de uma economia de subsistência atrasada e medieval. Chuvas torrenciais aqui significam calamidade pública. Mal desabam os primeiros aguaceiros, o Interior do Estado é assaltado pelas enchentes trágicas para as populações ribeirinhas.
Todos os anos, vivemos os mesmos flagelos que se repetem secularmente: as enchentes no Rio Mearim devoram as moradias de povoados e cidades como Pedreiras, cuja importância econômica para o Estado é inquestionável. O quadro das cheias tem conotações sombrias para a vida dessas comunidades. Centenas de famílias desabrigadas, sujeitas às intempéries mais Insuportáveis, ficam em pânico, ignorando os seus próprios destinos.
Depois que a SUDENE passou a atuar na região nordestina, os poderes públicos preferem esperar ansiosos as calamidades das enchentes para receber gordos recursos para aplicação nas obras de recuperação dos danos causados pelo Rio Mearim e outros.
Quando o desespero toma conta da situação, então, com o dinheiro dos órgãos federais, passam a atacar o problema, infelizmente, de forma paliativa, sem qualquer medida de profundidade, capaz de erradicar o mal pela raiz.
Tudo se passa como uma encenação de um ato teatral monstruoso, porque as desgraças das enchentes voltam a perturbar a coletividade no próximo ano. Facilmente compreensível que o Governo do Maranhão não tem interesse nenhum em empreender obras duradouras, como barragens, diques e outras proteções contra as cheias do Rio Mearim: ele usufrui vantagens financeiras com os recursos e capitaliza prestígio político, garantindo uma base eleitoral para seus correligionários e para si próprio.
À custa da miséria do povo se constrói fortunas pessoais, ganha-se nome e fama de administrador e monopoliza-se uma fatia do poder do Estado. Eis, em resumo, o procedimento terrivelmente prejudicial dos representantes do povo, no Maranhão... Eles podem continuar a reeditar as cenas desse velho drama, porque as brechas das negociatas e da contabilidade pública são permeáveis às malversações, mas a coletividade sabe que agem com truques e segundas intenções. Pelo menos, a máscara do disfarce da ajuda aos flagelados das enchentes já caiu no palco iluminado da opinião pública, há muito tempo.
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