Uma
possível saída da BP da joint venture russa TNK-BP, que tem 45% das
operações da brasileira HRT O&G em 21 blocos na bacia do Solimões,
na Amazônia, não terá nenhum efeito sobre o negócio no país. O
presidente do conselho de administração e fundador da HRT, Marcio Melo,
foi enfático ao dizer que qualquer desfecho entre os sócios não muda
"absolutamente nada" no Brasil. "Não tem nada a ver", disse o executivo
recentemente.
É
a mesma opinião de uma fonte com acesso aos sócios estrangeiros, que
lembrou que todo o pessoal que tem contato com o Brasil continua
trabalhando normalmente. "A HRT tem profissionais brasileiros, ingleses,
escoceses e de outras nacionalidades. São profissionais com carreira
internacional e o fato de trocar o presidente da TNK-BP ou uma mudança
no controle na Rússia não tem nenhum impacto no curto e médio prazos",
afirma a fonte.
Um
dos responsáveis pela participação da TNK-BP no Brasil é o executivo
Chris Eichcomb, vice-presidente de projetos de exploração e produção da
área internacional da companhia. A TNK-BP comprou 45% detidos pela Petra
na HRT em novembro do ano passado por aproximadamente US$ 1 bilhão. A
brasileira procura petróleo e gás em uma imensa área exploratória sob
concessão na Amazônia.
A
decisão da empresa anglo-russa de entrar no capital da HRT foi tomada
de comum acordo pelos acionistas da BP e da Alfa-Access-Renova (AAR)
controlada pelos bilionários russos Viktor Vekselberg (Renova), Leonard
Blavatnik (Access Industries) e Mikhail Fridman (Alfa Group). E na época
a relação já estava desgastada depois que a AAR entrou com ação
judicial contra a BP para impedir uma associação dela na Rússia com a
estatal russa Rosneft para explorar petróleo no Ártico.
A
BP anunciou que recebeu uma proposta "não solicitada" relacionada a uma
potencial aquisição de suas ações na TNK-BP, sem informar o autor da
proposta. O valor de mercado da companhia é de R$ 32,243 bilhões.
O
anúncio de que a BP pode sair da sociedade foi feito dias depois do
poderoso Mikhail Fridman renunciar à presidência da companhia e do
conselho, apesar de seu mandato só vencer em 2013. E os acionistas da
AAR mencionaram a existência de uma cláusula no acordo de acionistas
pode complicar o negócio.
A
TNK-BP foi criada em 2003 e já é a terceira maior produtora de óleo e
gás da Rússia. A companhia produz quase 2 milhões de barris de óleo
equivalente por dia e tem capacidade de refinar diariamente 750 mil
barris de óleo. Hoje seu valor de mercado é de US$ 32,2 bilhões.
Se
a venda for concluída terá implicações relevantes para a britânica (que
pode fazer caixa para cobrir os prejuízos calculados em US$ 40 bilhões
com o vazamento do campo de Macondo, no Golfo do México, por exemplo),
como também para o governo da Rússia, que quer mais influência sobre a
TNK-BP.
A
consultoria Eurasia Group avalia que ainda é cedo para dizer se a
holding estatal Rosneftegaz, que controla a Rosneft, poderia comprar uma
participação.
Também
não está claro se a AAR está negociando a compra das ações do sócio, ou
mesmo vendendo sua participação. Longe da briga dos sócios, a HRT,
assim como outra novata, a QGEP, do grupo Queiroz Galvão, continua sob
intenso foco de analistas no Brasil. A HRT foi criada em 2009 e fez uma
bem sucedida estreia no mercado de ações em 2010, mas ainda não fez
nenhuma descoberta importante, mesmo depois de perfurar sete poços na
Amazônia.
Em
recente relatório, analistas do Credit Suisse enfatizam que as duas
empresas ainda não tiveram sucesso exploratório. O relatório ressalta,
contudo, que a área da HRT no Solimões e na Namíbia (onde os
anglo-russos não têm participação) é tão grande que vai manter a empresa
ocupada pelo próximo ano e meio, o que significa que, "eventualmente", a
HRT poderá encontrar petróleo.
Fonte: Cláudia Schüffner, Valor Econômico/Nicomex Notícias, junho/12